O Presidente do Governo defendeu hoje, na Praia da Vitória, uma cada vez maior rentabilização económica do “bom trabalho” que o setor agrícola regional tem vindo a fazer em termos de pegada ecológica e de bem-estar animal, no sentido de aproveitar a crescente apetência dos mercados para valorizar este tipo de boas práticas sustentáveis.
“Devemos prosseguir com o trabalho - e bom trabalho - que tem sido feito na nossa Região, a começar pelos nossos agricultores. E aprofundar esse trabalho, fundamentá-lo técnica e cientificamente e, sobretudo, rentabilizá-lo num mundo que cada vez mais está desperto e valorizador desses aspetos”, afirmou Vasco Cordeiro, que falava na abertura do XIII Congresso da Agricultura dos Açores, promovido pela Federação Agrícola dos Açores.
Depois de preconizar que a Universidade, mas também outras entidades do sistema científico regional, têm aqui uma boa oportunidade de contribuir para este objetivo, o Presidente do Governo considerou ser necessário ter a consciência de que este desafio da sustentabilidade ambiental não “começa e acaba na pastagem e na produção”.
“Nesse domínio, aliás, talvez seja fora da pastagem em que, neste momento, há uma margem de progressão mais ampla para fazermos mais e melhor. A performance energética das nossas indústrias de lacticínios e a sua componente ambiental são algumas das áreas que merecem um novo olhar e olhar atento”, referiu Vasco Cordeiro.
Na abertura do evento, que conta com o apoio do Governo, o Presidente do Executivo açoriano considerou que em causa está, assim, a construção de “novos e atuais argumentos que vão ao encontro das necessidades e sensibilidades do mercado”, assim como a transformação desses “argumentos em ativos valorizadores dos produtos, dos preços e dos rendimentos de toda a cadeia”.
“Esta é uma matéria que suscita o interesse crescente da opinião pública e, ao mesmo tempo, é uma componente que tem sido valorizada e apreciada de forma cada vez mais importante por parte dos mercados e dos consumidores. A agricultura açoriana tem condições para entrar neste debate e assumir plenamente as suas mais-valias nessa discussão”, garantiu.
Um segundo desafio destacado por Vasco Cordeiro nesta ocasião tem a ver com a “aliança virtuosa que necessita de ser ampliada, valorizada e tornada ainda mais produtiva, entre a investigação, a qualificação de processos e produtos”.
“Esta é, de forma crescente, uma área em que temos de vencer inércias, ultrapassar obstáculos e concretizar uma nova abordagem. É fundamental alicerçar melhor, e de forma mais eficaz, essa parceria entre as diversas entidades que podem contribuir para a inovação e para o desenvolvimento do nosso setor agrícola”, destacou o Presidente do Governo, ao salientar que, também nesta matéria, a “questão não se coloca só, ou tanto, ao nível da produção, mas também, e de forma particularmente ativa, nas fases subsequentes a esse setor”.
Na abertura do congresso, Vasco Cordeiro sublinhou, por outro lado, a necessidade de se vencer também o desafio da notoriedade da agricultura e das produções açorianas.
"No fundo, tornarmos mais conhecido, evidenciarmos aquilo que fazemos, aquilo que fazemos bem e aquilo que queremos fazer ainda mais e melhor”, sublinhou o Presidente do Governo, ao adiantar que o Executivo vai lançar, no início de 2020, uma campanha publicitária de âmbito nacional para tornar os produtos lácteos açorianos mais conhecidos pela sua qualidade, apostando numa comunicação eficaz e direta junto dos consumidores do território continental, para onde a Região exporta, maioritariamente, os lacticínios que produz.
Na ocasião, Vasco Cordeiro sublinhou alguns resultados do “percurso notável” que a agricultura açoriana realizou nas últimas décadas, mas salientou que estes resultados não podem desviar a atenção dos vários desafios que o setor enfrenta.
Recorde-se que os Açores produzem cerca de 50 por cento do queijo e quase 35 por cento do leite do país e, em 2018, a faturação da produção de leite atingiu perto de 180 milhões de euros, mais 7,2% do que em 2017.
O volume de negócios da indústria de lacticínios totalizou, em 2018, cerca de 310 milhões de euros, sendo um dos grandes contribuintes para o crescimento das exportações regionais.
Cerca de 50% do leite produzido em São Miguel e 40% nos Açores já é refrigerado, o que significa, não só melhor matéria-prima, mas também, na prática, uma melhoria direta no rendimento dos produtores.
Relativamente ao setor da carne, rendeu cerca de 50 milhões de euros no ano passado, apresentando ainda boas perspetivas de valorização futura, também devido aos cerca de 15 milhões de euros investidos na rede regional de abate e ao processo de certificação de todos os matadouros, que ficará totalmente concluído em 2020.
No último ano, foram abatidos nos matadouros dos Açores e aprovadas para consumo quase 73 mil carcaças de bovinos, o que corresponde a um aumento superior a 30% nos últimos cinco anos.
Se analisado o período compreendido entre 2008 e 2018, exporta-se atualmente apenas cerca de um terço do gado vivo que se exportava, ou seja, foi conseguida uma evolução de 32 mil para menos de 11 mil animais.
Quanto à diversificação agrícola, registou-se, nos últimos quatro anos, um crescimento de quase 40% da área dedicada à vinha, à horticultura, à fruticultura e à floricultura, passando-se de uma área de cerca de 2.000 hectares para os atuais perto de 3.000 hectares.
Na vitivinicultura, os resultados são também expressivos, sendo que, ao abrigo do programa VITIS, já foram investidos cerca de 21 milhões de euros, que permitiram reconverter quase 800 hectares de vinha.
Atualmente estão em produção cerca de 1.200 hectares de vinha na Região, mais 500 por cento do que os 200 hectares que estavam a produzir vinha em 2010.