Hoje mais que nunca, impõe-se a questão: afinal, quem somos nós para este Governo da República? Que tipo de consideração tem pelos portugueses aquela amálgama de governantes que nos vem soprando continuamente com ventos de austeridade, de instabilidade, com vivências retalhadas por aumentos insuportáveis de impostos, por cortes constantes nos salários, nas pensões, na esperança de toda uma geração de jovens que no desejo de construir uma vida, muitas vezes se obriga a abandonar o seu país?
Mais do que portugueses, quem somos nós, como açorianos, para o Governo da República? Que desconsideração imerecida é esta com que amiúde nos relegam para um plano secundário que não deve ser, decididamente, o da nossa Região? Não se concebe que uma delegação governamental cujo objetivo primordial é a captação de investimento a nível do Mar, que vá a um país cuja população emigrante de origem portuguesa tem uma expressão açorianíssima que lhe é indissociável, se demarque claramente dos Açores e dos seus representantes! Não se percebe que o Vice-Primeiro Ministro vote a nossa Região à indiferença, numa área e num País onde tanto, mas tanto já demos (e damos!) a Portugal.
Já não é a primeira vez que do continente vem esta exibição quase jactante de falta de respeito para com os açorianos. Tem sido frequente a desconsideração com que somos brindados por figuras de proa da governação da República. Especialmente nas deslocações ao estrangeiro, quando se tratam de assuntos que assumem especial relevância para a nossa Região e na negociação dos quais poderíamos assumir um papel preponderante. Pergunte-se ao Presidente da República se se lembra da Cimeira Mundial do Mar, no início deste ano, onde desconsiderou completamente a importância da participação do nosso mais elevado representante. Se calhar, neste caso mais recente, a fobia de Paulo Portas foi a de perder o center stage. Vá-se lá saber.
Que raramente este Governo da República nos demonstrou cordialidade em questões do interesse da nossa Região, é um facto. Que, por exemplo, demoram eternidades para resolver a questão das obrigações de serviço público de transporte aéreo, também é verdade. Agora…que displicentemente passem “cá por cima” para ir tratar de assuntos que a nós tão diretamente dizem respeito e nem pio nos dizerem…é inadmissível e já cansa.
Os Açores sempre desempenharam um papel histórico importantíssimo para o país. Portugal tem, a nível europeu, uma dimensão comparativa extraordinária porque os Açores lhe dão uma zona económica exclusiva soberba, das maiores do Mundo. Portugal tem uma posição estratégica importantíssima a nível mundial porque os Açores lhe dão possibilidade de ser a última fronteira da Europa e o ponto dessa Europa que mais próximo está do continente americano. Portugal tem uma projeção importante nos Estados Unidos e no Canadá (em grande parte) porque os açorianos para lá foram e criaram comunidades notáveis. Portugal não tem umas contas públicas com um buraco maior porque os Açores mantiveram as suas equilibradas.
Os Açores sempre trouxeram benefícios ao País. “Lá fora”, deviam estar orgulhosos do que se faz “cá dentro”. Ao invés, Passos e a sua entourage gostam de brincar de faz-de-conta num País onde os Açores não existem, onde Portugal tem só 89 000 kms2 e à volta uma piscininha para molhar os pés, ao invés dos 1,727,408 km² de zona económica exclusiva, que lhe são possibilitados pela mera existência destas 9 ilhas.
Mas afinal? Brincamos ou quê?