Opinião

O imediatismo do mediático

Aproximando-se o momento em que teremos que novamente exercer o direito de voto, desta vez na escolha de um “novo” Presidente da República, parece que, até agora, não podemos considerar terminantemente que tudo esteja decidido. As diversas sondagens que têm surgido apontam para uma constante vantagem do candidato Marcelo Rebelo de Sousa. No entanto, da esquerda têm surgido forças equilibrantes, como clara derivação dos debates entre Marcelo, Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias, que claramente encostaram Marcelo “às cordas”, salientando algumas das suas incongruências de discurso e falhas argumentativas que, até então, faziam espetáculo que a muitos pareciam agradar. Marcelo Rebelo de Sousa é entendido por muitos como um homem de competência reconhecida. Outros tantos ainda se deixam influenciar pela caricatura que Marcelo fazia de Marcelo nos seus comentários televisivos semanais, não perscrutando para além dessa figura, caindo nas malhas do imediatismo do universo mediático. Mas, mesmo não tendo sido sua aluna na Faculdade, recordo com clareza o carinho e a admiração com que os seus alunos falavam do seu Professor (então) de Direito Administrativo, que os cativava a serem melhores e a estudarem mais com recurso aos mais diversos (e, reconheço, sagazes) expedientes. Mas eu, também como (então) aluna, recordo de forma muito vincada a postura do (então) Reitor Sampaio da Nóvoa. Homem sério e de princípios, de uma cultura imensa, não avesso ao diálogo equilibrado, flexível quando pôde ser e firme quando as circunstâncias o exigiram. São estes os dois candidatos que mais condições têm para chegar à Presidência da República, sejamos realistas (e não descurando, de modo algum, as qualidades de alguns dos restantes candidatos).Mas em situação alguma devemos acreditar em vencedores antecipados. O debate de ideias perde sentido quando se parte do princípio que um deles já ganhou. Para os Açores, o que nos interessa? Antes de mais, interessa um Presidente da República que não seja alérgico às Autonomias. Que não aja constantemente como se as Regiões Autónomas fossem um incómodo. Também precisamos de um Presidente da República que não seja uma mera figura decorativa, regurgitante de banalidades que soam adocicadas ao ouvido mas que não apresentam qualquer tipo de consequência prática positiva. E precisamos de um Presidente lúcido – a quem, de preferência, as vacas não sorriam. No fundo, precisamos de um Presidente da República que não faça o que Cavaco Silva fez. Que marque pela diferença positiva e construtiva. Posto isto, é necessário que os portugueses votem em consciência – não se deixando levar, num cenário perfeito, pela maior visibilidade mediática de um candidato face a outro, mas sim analisando as pessoas em causa, as suas posições concretas e, no caso dos Açores, os seus entendimentos face à Autonomia presente, bem como ao futuro que para ela se pretende desenhar. Cabe ao Presidente da República assegurar a unidade do Estado – e nessa “unidade” tem particular relevância a noção com que o Presidente da República entende a existência das Regiões Autónomas e os benefícios que a mesma traz à estrutura democrática do Estado Português. Sendo assim, urge que os portugueses exerçam um voto responsável e informado, não distorcido por loas mediáticas que se têm vindo a cantar em alguns órgãos de comunicação social que, dissimuladamente, “puxam” claramente por um candidato específico, desafiando claramente as regras de clareza e isenção exigidas ao exercício de um jornalismo que se paute pela mais inquestionável seriedade.