Opinião

“Também somos Ponta Delgada”

O título deste texto é uma replicação de um slogan afixado em muitas montras dos estabelecimentos comerciais localizados na baixa de Ponta Delgada. O dístico fluorescente está à vista de todos em dezenas de lojas de diversas atividades comerciais. Do vestuário ao artesanato. Da fotografia à imobiliária. Dos artigos religiosos aos laboratórios de análises e consultórios médicos. Esta foi, portanto, a forma encontrada por quase uma centena de empresários para mostrar o seu desagrado com a decisão tomada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada de manter em vigor as alterações ao trânsito implementadas durante a quadra festiva de final do ano no centro histórico. Esta opção tomada pelo Presidente da Câmara, independentemente da opinião que cada munícipe possa ter quanto à substância, é totalmente contrária ao que foi dito na Assembleia Municipal de Ponta Delgada (AMPDL) realizada no dia 29 de dezembro de 2021. Aí foi afirmado, perante todos, que as atuais alterações ao trânsito vigorariam até ao termo da época festiva. Aliás, isso mesmo constava em edital e notas públicas da autarquia onde, expressamente, se referia que as alterações ao trânsito seriam para vigorar no período compreendido entre os dias 9 de dezembro de 2021 e 2 de janeiro de 2022. Isto é, no dia 3 de janeiro voltar-se-ia ao modelo de circulação anterior. Em nome da verdade, cumpre referir que também foi afirmado, mais do que uma vez, pelo Senhor Presidente da Câmara, que o modelo ora seguido seria para repetir no futuro. Foi dito, mais palavra menos palavra, que “inevitavelmente as ruas do centro serão fechadas novamente”. Acontece que não foi preciso esperar muitos dias para assistirmos ao anúncio do Senhor Presidente de Câmara, através de um comunicado de imprensa datado de 4 de janeiro, que, afinal, o que era temporário dava já lugar a definitivo. O comunicado vinha anunciar que o município ia “manter em vigor as alterações ao trânsito implementadas durante a quadra festiva no centro histórico”. Acrescentando-se ainda no referido comunicado que “A autarquia manifesta-se absolutamente convicta de que este é o caminho que temos de seguir para alcançarmos uma cidade com elevados padrões de qualidade de vida para quem nela vive e trabalha, atrativa para quem nos visita”. Referindo-se, em jeito de conclusão, que “voltar atrás seria retroceder no caminho”. Mas esse nobre objetivo e bonito caminho da sustentabilidade não existia no dia 3 de dezembro (data do edital com restrições ao trânsito)? E no dia 29 dezembro (data da AMPDL)? O caminho só ficou visível no dia 4 de janeiro? Qual a razão para não ter sido logo anunciado? Qual o motivo que justificou a contradição entre as palavras e a colocação de sinais de trânsito e pilaretes na via pública que não tinham nada ar de temporários? Por que razão não foi, desde início, encetado um verdadeiro diálogo entre todas as partes envolvidas (decisores políticos, câmara de comércio, empresários e munícipes)? Este tipo de decisão não justificava uma consulta alargada à comunidade? O que se ganha em colocar empresários contra empresários? Em suma, não são todos Ponta Delgada?