Opinião

Não é comigo

O tempo é de férias e de “desligar a ficha”. Aproveitar os dias de merecido descanso num exercício a contrarrelógio porque logo, logo o que era bom termina. O bom tempo, o convívio em família e com amigos, as festas e festivais fazem esquecer as dificuldades e os problemas do dia a dia. Ou, pelo menos, ficam arrumados em segundo plano. Não vão eles estragar estes dias que queremos de conforto e serenidade. No entanto, assuntos existem que não podem deixar de estar na ordem do dia e na primeira linha da nossa atenção.
É o caso do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada. Decorridos 110 dias do incêndio que deflagrou na principal unidade de saúde da Região, muitas questões continuam por clarificar e as soluções anunciadas, sem que houvesse o debate que um problema desta dimensão exigiria, já começam a derrapar. Foi garantido que no final do mês de agosto o hospital modular estaria a funcionar. A solução, orçada em 12,8 milhões de euros, foi proclamada como a melhor pelo Governo Regional, será mesmo a melhor? A melhor ou não, é a que está em obra, lentamente, mas em obra.
Os leitores mais atentos, lembrarão que no artigo do passado dia 8 de agosto já tinha alertado de que seria impossível o hospital modular estar em funcionamento no final de agosto e sinalizei que a secretária regional da Saúde foi deixada sozinha com este problema. Pois bem, dúvidas houvesse, foi o próprio Presidente do Governo Regional a confirmar. Na passada segunda-feira, quando confrontado com a derrapagem no prazo previsto, contratado pelo Governo Regional, para a execução da obra, não teve qualquer problema em remeter a responsabilidade para a secretária regional da Saúde. O hospital modular, assumindo o cumprimento dos prazos contratualizados, só estará em funcionamento parcial em meados de novembro.
Por mais lamentável que seja esta situação, o que verdadeiramente nos deve preocupar é o impacto do arrastar desta situação no dia a dia dos açorianos. A redução da capacidade de resposta em vários serviços essenciais, como os serviços de emergência, as cirurgias programadas ou, ainda, as consultas de especialidade, continua a provocar uma sensação de insegurança e incerteza em relação ao acesso a cuidados médicos.
A confiança no sistema de saúde foi abalada, gerando ansiedade à população de São Miguel, especialmente entre os doentes, assim como nas suas famílias. Com tratamentos e cirurgias adiados, fica em risco a saúde, especialmente dos que estão em situação de maior vulnerabilidade ou em condições que exigem uma intervenção imediata. Estes atrasos criam um efeito cascata, potenciando situações em que problemas menores sejam agravados, levando a complicações que poderiam ter sido evitadas com uma resposta adequada.
A par disto, com o HDES parcialmente inoperacional, assiste-se a uma sobrecarga nas outras unidades de saúde e hospitais do arquipélago, levando ao aumento dos tempos de espera e, em alguns casos, à diminuição na qualidade do atendimento. Há doentes de São Miguel e das outras ilhas que continuam a ser reencaminhados para o Funchal, mas disso já não se dá nota.
É premente garantir aos açorianos a prestação de cuidados de saúde em segurança, com dignidade e em tempo útil. É urgente devolver aos açorianos a tranquilidade necessária numa das áreas mais sensíveis para todos nós, a saúde.
E num assunto tão sério e sensível, temos, como resposta do Presidente do Governo Regional, um simples, não é comigo! Então, será com quem?