Opinião

Ganhar o óscar

Ainda mal refeitos dos festejos carnavalescos e a timidamente entrar numa época, segundo a tradição cristã, destinada à reflexão, ao jejum e à abstinência, julgamos ser tempo de pensarmos seriamente no nosso presente e futuro, como sociedade organizada; de nos privarmos da crítica fácil e de impormos a nós próprios uma certa contenção no discurso. Apesar dos santos propósitos acima enumerados, não podemos deixar de cometer o “pecado” de trazer até vós alguns factos que mereceram ser notícia nos últimos dias. Começaríamos por comentar a apresentação, por parte de Berta Cabral, do estudo prévio, do projecto do Museu de Arte Contemporânea de Ponta Delgada que terá – se Deus o mantiver vivo – a assinatura do consagrado arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer que já conta mais do que um século de vida. Segundo as imagens reproduzidas na imprensa, o imóvel será de estilo semelhante ao mandado edificar em Espanha pelo governo das Astúrias na localidade de Avilés. Em abono da verdade, é motivo de orgulho para os cidadãos de Ponta Delgada poderem contar no seu património edificado com uma obra com a assinatura de uma figura de prestígio como é a daquele arquitecto brasileiro. Agora não podemos ignorar todas as questões, que muito embora queiram considerar acessórias, não deixam de ser altamente relevantes numa época que deve ser de contenção e de selecção cuidada dos investimentos a levar a efeito. Comecemos logo pelo custo do projecto que ascende ao montante de 650.000€, ou seja em moeda antiga, a módica quantia de 130.000 contos e que obrigou a nossa presidente a uma fastidiosa viagem ao Brasil, em vésperas de carnaval, para tirar o retrato ao lado de Niemeyer e vê-lo assinar o respectivo contrato! Quanto ao valor da construção, está estimado que a Câmara investirá qualquer coisa como 7 milhões de euros, ou seja em contos 1 milhão e 400 mil! Berta Cabral, numa jogada de antecipação, veio célere informar que 85% será pago com fundos comunitários que não poderiam ser usados em despesas sociais ou de funcionamento. É bom também que se saiba, que o Quadro Comunitário de Apoio, em vigor até 2013, privilegia a aplicação dos fundos da União Europeia em acessibilidades, ensino e cultura, pelo que o povo não poderia estranhar que em época de tão apregoadas vacas magras, a edilidade de Ponta Delgada optasse por investir num equipamento cultural – que diz ser do mundo – quando, dizemos nós, o Governo Regional tem já em marcha o processo de construção de um equipamento que dará a necessária resposta às necessidades culturais da ilha, ou seja o Centro de Artes Contemporâneas cujo concurso já foi lançado e mereceu a candidatura por parte de 16 empresas. Será que não é necessário investir nas escolas do 1º ciclo? Veja-se por exemplo, o péssimo estado da Escola do Ramalho com obras prometidas há séculos e aonde a lista de espera para o ATL é interminável por falta de acção da edilidade. Será que as vias municipais – avenidas, ruas, becos e caminhos do Livramento aos Mosteiros, estão todos nas melhores condições? Veja-se a título de exemplo a canada, que obriga a automobilistas e peões a uma circulação de alto risco, construída pela Câmara entre a rotunda junto à Associação de Futebol de Ponta Delgada e a Avenida Cecília Meireles. Tal arruamento assemelha-se a um estreito trilho pedestre, construído no meio do mato, para uso de aventureiros. Ou então, pasme-se perante a excelente obra de alargamento da Canada das Figueiras, em frente à Praia das Milícias em S. Roque, aonde, após longos anos, ainda se mantém uma casa plantada no meio da via! Para não vos maçar mais, deixo apenas mais um lembrete: - Não se esqueçam de limitar o concurso de construção às empresas regionais, não vá algum espanhol ou brasileiro apresentar uma melhor proposta!