Os resultados eleitorais do passado fim-de-semana não deixaram dúvidas acerca da solução governativa para os Açores nos próximos quatro anos. Se já poucas dúvidas havia sobre se o Partido Socialista sairia vencedor destas eleições, muitas dúvidas se colocavam ainda sobre a margem de vitória relativamente ao PSD/A. Os açorianos responderam “presente” à alternativa de Vasco Cordeiro, dando-lhe maioria absoluta e dissipando essas dúvidas.
Estas eleições regionais fornecem-nos indícios acerca do que pensam as pessoas sobre a crise nacional e europeia, ao mesmo tempo que dissiparam as nuvens que pairavam sobre a decisão do sucessor de Carlos César e a estratégia adoptada para chegar a bom porto uma candidatura assente em conceitos como renovação, inovação e adaptação.
O povo português não quer mais austeridade. É claro, isto. Os ex-ministros e ex-dirigentes que têm dado a cara no expressar das suas opiniões são francamente contra a proposta de Orçamento de Estado para 2013 – que, felizmente para o PSD/A, não foi apresentada antes das eleições regionais, caso contrário o resultado poderia ter sido pior – e muitas são as vozes que o consideram inexequível. Repete-se uma fórmula de aumento de impostos quando o ano que termina já provou que é uma fórmula falhada e baseada em pressupostos erróneos, como o próprio FMI já veio a público assumir. As pessoas estão cansadas de serem “austerizadas” sem benefícios visíveis e sem apoios às dificuldades por que passam.
O povo açoriano sabe o que são contas públicas equilibradas lado a lado com uma gestão governativa de grande sensibilidade social, de assistência e apoio aos mais pobres e mais fracos, tentando minimizar os efeitos nefastos de uma política de cortes cegos e de cega austeridade. E é por isso que os Açores votaram numa maioria absoluta do Partido Socialista. Não se tratou apenas de uma batalha entre Vasco Cordeiro e Berta Cabral, mas sim de uma batalha ideológica onde se pesaram modelos de esquerda e de direita. E o povo escolheu sabiamente o de esquerda.
Contudo, não quer isto dizer que a vitória do PS/A se deveu apenas à política do Governo da República. A vitória do Partido Socialista deveu-se à efectiva renovação dos candidatos, a começar pela apresentação da Vasco Cordeiro como candidato à Presidência, às propostas alternativas apresentadas e ao bom trabalho que o Partido Socialista tem desenvolvido nestes anos em que tem sido governo. Nem tudo tem sido um mar de rosas, é certo, e muito mais haverá para melhorar. Mas a verdade é que, na expressiva vitória do PS/A, os eleitores reconheceram não só o bom trabalho desenvolvido até agora como também a expectativa de um bom trabalho a ser desenvolvido de agora em diante.
Atribuir à derrota do PSD/A e CDS/PP apenas factores externos é de certa forma reduzir o valor da vitória do PS/A. Carlos César não se recandidatou à Presidência do Governo Regional num exemplo de democracia e alternância que deveria ser tido pelos políticos como um modelo a seguir. A solução apresentada passou pela escolha de um candidato novo, com ideias novas, com uma equipa renovada e bem preparada para fazer face aos desafios que se avizinham, lado a lado com a idade e a experiência de quem até agora tem governado. O povo sente estas coisas, alguns políticos aparentemente não se tocam.
O grande derrotado destas eleições acaba por ser o CDS/PP, que perde dois deputados à Assembleia Legislativa Regional. Pese embora tenham apregoado o bom trabalho desenvolvido, e tenham tido a presença de Paulo Portas durante a campanha, o certo é que Artur Lima vê-se sem dois deputados nos próximos quatro anos, dificultando em muito o fazer-se ouvir da voz do CDS. Se calhar o voto de confiança que os açorianos depositaram há quatro anos não viu eco na actuação do partido nesta legislatura que findou. Um motivo de reflexão, bien sur.
Estes não são tempos de partidarismos frenéticos nem facciosos. Estes são tempos de se unirem as vozes contra uma política de austeridade cega e desfasada da realidade e de se encontrar uma alternativa credível ao rumo que Portugal tomou desde a eleição de Passos Coelho e que se tem vindo a revelar inadaptado às necessidades da nossa retoma económica e altamente penalizador para os trabalhadores. A inversão que o Orçamento de Estado para 2013 apresenta, passando para dois terços de aumento de impostos contra um terço de corte nas despesas revela isso mesmo: uma insensibilidade social ofensiva à dignidade das pessoas; uma subserviência à receita da Troika e ao imobilismo da Comissão Europeia atrozes; um sentimento de culpa judaico-cristão que impede qualquer laivo de mudança.
No contexto nacional os Açores têm de se fazer ouvir e de fazer valer a sua posição. Também aqui o OE revela uma ignorância preocupante relativamente à nossa região e às nossas instituições. A vitória do PS/A traz consigo também a esperança de que os Açores não serão uma extensão surda e muda da austeridade nacional (como temido no cenário de vitória do PSD/A&CDS/PP), ao mesmo tempo em que se apresenta como um sinal daquilo que as pessoas querem para as suas vidas. E mais do que tudo, o que as pessoas não querem é injustiça e esta, infelizmente, está bem patente na actuação do Governo da República.
Quem sabe se a maioria absoluta não foi mesmo a penalização dos riscos que corremos ao ter um governo de maioria PSD e CDS – seja nacional ou fosse ele regional. É que Paulo Portas já mostrou a sua verdadeira natureza em diversas situações ao longo do seu percurso político. E se até agora caíam bem os abraços de feira e a demagogia popular, neste momento em que é preciso competência, união e vontade de resolução dos problemas, birras de adolescente no seio da coligação (vamos a ver como se porta o CDS na discussão do OE) são “mariquices” que o povo dispensa e que acaba por penalizar quando pode. E foi o que se sucedeu.
Vasco Cordeiro deixou bem expresso, no discurso da vitória, que conta com todos os açorianos e açorianas que pretendam dar um contributo à sua região. Todas as ideias são bem-vindas para o estabelecimento de uma governação conjunta, coordenada, inovadora e, claro está, adaptada às exigências destes tempos que se aproximam.