Tem sido esta a frase usada várias vezes pelos membros do Governo ou partidos políticos que apoiam o Governo Regional para condicionar qualquer tipo de questão ou discordância sobre o trabalho que está a ser desenvolvido na gestão da pandemia nos Açores.
Acusam quem discorda ou questiona de “usar a pandemia para fazer política”!!! e utilizam termos de grande gravidade, sem qualquer fundamentação ou explicação clara sobre a que se referem.
Já ouvimos falar em “estratégias de sabotagem”, “terrorismo”, quem discorda ou questiona é acusado de “querer que as coisas corram mal”, já tivemos censura a notícias de órgãos de comunicação social, enfim…a culpa é sempre dos outros.
Se as coisas correm bem, o mérito é do Governo, se as coisas correm mal, a culpa é do povo…
Há também a narrativa de que no passado “sempre houve solidariedade dos partidos da oposição para com as medidas do Governo no âmbito da gestão da pandemia”. Ora, até podemos admitir isso e acreditar na boa vontade dos então partidos da oposição, mas isso nunca impediu que estes partidos discordassem da estratégia adoptada, colocassem questões, apresentassem dezenas de requerimentos com perguntas sobre o assunto, fizessem centenas de comunicados sobre esta área, colocassem dezenas de questões nos vários plenários do Parlamento que existiram especificamente para debater a gestão da pandemia, fizessem várias propostas ou chamassem às comissões parlamentares os membros do Governo.
Recorda-se, a este propósito, que todos os membros do anterior Governo foram chamados às comissões parlamentares para prestar esclarecimentos sobre a sua acção na gestão da pandemia, incluindo o anterior Presidente do Governo.
E neste âmbito, Artur Lima, Paulo Estêvão e José Manuel Bolieiro foram sempre dos mais activos. Bastará uma rápida pesquisa no google para perceber isso.
Questionar, discordar, propor fazer diferente, defender outras soluções foi legítimo no passado, como é legítimo agora.
A diferença é que antes o então Presidente do Governo Vasco Cordeiro informava, com regularidade, todos os partidos da oposição sobre o trabalho que estava em curso e que iria ser desenvolvido. Agora, esse procedimento de informação permanente através do Presidente do Governo acabou.
Em boa verdade, esta narrativa acusatória de que quem discorda “usa a pandemia para fazer política” é uma estratégia para condicionar quem legitimamente critica e para desviar as atenções de todos os problemas que infelizmente o processo de vacinação tem tido na Região, desde o seu início, com especial incidência na Ilha de São Miguel.
É, por isso, que já aqui propusemos a importância vital de ser o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores a coordenar todo o processo de vacinação, pela competência, meios, capacidade logística e qualificação de que dispõem os seus dirigentes e funcionários e pelo conhecimento do terreno que têm as nossas corporações de Bombeiros. Infelizmente, não foi esse o entendimento do Secretário da Saúde, preferindo agora contratar uma pessoa externa para essa coordenação, não valorizando o que temos de bom instalado na Região. Lamentamos tal decisão.
Mas afinal o que é “fazer política” senão a vontade e empenho de questionar, pôr em causa, apresentar soluções diferentes ou valorizar as soluções encontradas, para que funcionem melhor a favor das pessoas? Seja na gestão da pandemia ou noutra coisa qualquer, seja feita por partidos políticos, responsáveis políticos, organizações não governamentais, movimentos cívicos ou cidadãos.
Fazer Política é isso e deve ser isso.
Da nossa parte, não nos condicionarão. Assim continuará a ser…