1.ª – Negociação
A primeira mensagem que António Costa quis deixar bem clara na entrevista dada à RTP, na passada segunda-feira, foi que o seu Governo, bem como o Partido Socialista, tudo fizeram para levar a bom porto as negociações com as esquerdas. António Costa fez questão de dizer, sem deixar margem para qualquer interpretação, o seguinte: “Fizemos tudo, tudo, tudo o que estava ao nosso alcance. Agora, há um limite em que, em consciência, uma pessoa não pode querer para se manter a qualquer custo no poder. E qual é o limite? É o limite da razoabilidade”. A escolha destas palavras não é por acaso. Costa sabe, muito bem, a diferença entre um partido de poder e um partido de protesto. E também sabe que, muito provavelmente, vai precisar dos partidos que vão para além da razoabilidade. Mas convém deixar bem claro as linhas vermelhas.
2.ª – Dissolução
A segunda mensagem, decorrente da opção pelo chumbo na generalidade, foi sobre a opção de Marcelo Rebelo de Sousa pela dissolução da Assembleia da República. António Costa, como seria de prever, disse compreender a decisão do Presidente da República. Costa aproveitou para reiterar que a decisão do PEV, PCP e BE de votarem contra o Orçamento logo na generalidade “significou uma rejeição liminar das linhas gerais de orientação do Governo”. Acrescentando, posteriormente, que “Ninguém gosta destas eleições antecipadas. Sinceramente, acho que não é possível apontar o dedo ao Presidente da República. Acho que o Presidente da República, perante as circunstâncias com que foi confrontado pelos partidos, não lhe restava escolher a menos má de todas as más soluções”. Defendendo, obviamente, que “a solução boa era ter havido um Orçamento viabilizado, sem colocar em causa o futuro do país”. Já terão ouvido algo muito parecido, certo?
3.ª – Governação
A terceira mensagem foi dedicada ao pós 30 de janeiro. António Costa pediu estabilidade política para os próximos quatro anos. Costa garantiu que um Governo do PS “será sempre à esquerda”. Dizendo que “as pessoas que escolham se querem dar força a um Governo do PS ou se não querem”. Referindo ainda que “a ambição do PS é ganhar com o maior número de votos”. De qualquer forma, e sem assumir claramente a ambição de obter maioria absoluta, fez questão de salientar que: “Um Governo do PS com maioria absoluta terá sempre o escrutínio do Presidente da República, da comunicação social e do poder judicial. E não deixaríamos de negociar. Um Governo do PS com maioria absoluta não será perigoso”. As cartas estão lançadas. Os eleitores conhecem bem António Costa. Na versão geringonça escrita, na versão resquício de geringonça e na versão com e sem maioria absoluta (Câmara Lisboa). É só escolher a versão preferida. É esta a tradução… que até rima com governação.
4.ª – Sucessão
Por fim, a quarta e última mensagem. Esta foi deixada para dentro do PS. António Costa sabe das movimentações e contagem de espingardas. E, por isso, quis deixar bem claro que só não será candidato a secretário-geral em 2023 se perder as eleições. Neste cenário – presumo que se tenha referido a não conseguir formar governo – informou que deixa a liderança do PS e que também não se sentará na Assembleia da República para que seja aberto um “novo ciclo”. Alguma dúvida?