Opinião

“Não passarão”

Peço emprestado a Miguel Torga o título da crónica de hoje. Trata-se efetivamente do título de um dos seus mais bonitos poemas sobre liberdade e sobre a capacidade de defendermos o que é nosso.
Não me interessa aqui analisar o poema, ou tão pouco ir buscar o sentido histórico deste “Não passarão”, que passa (inclusivamente) pela guerra civil espanhola. Deixo isso para os historiadores, que os há, muito mais habilitados.
Todavia, não abdico a propósito de lembrar também o poema de Ary dos Santos: “Não passam mais” ou, igualmente, o de Natália Correia, “Queixa das Almas Jovens Censuradas”. São bons textos para ler e reavivar memórias sobre a importância fundamental da liberdade de opinião; sobre sermos livres e sobre (também) o seu contrário.
Logicamente que o tema desta semana vem exatamente a propósito do caso das ameaças por divergência de opinião, tanto quanto se percebeu, e da inusitada reação do Presidente do Governo. Confesso que (apesar de tudo) esperava outra capacidade de lidar com o problema e não a mera referência a “problemas pessoais”. Não se pode, isto é uma verdade incontestável, creio, querer ser “referencial de estabilidade” e depois reagir assim, como se fosse coisa de somenos a privação do direito à opinião livre, por um lado e, por outro, o uso da ameaça como forma de repressão.
O que é ser-se “referencial de estabilidade” sem liberdade de expressão?
Nascida depois do 25 de abril e da mesma idade que a Autonomia dos Açores, posso dizer que é (também) destas circunstâncias, que nasce esta crónica.
Não concebo outra forma de estar que não seja em liberdade. Liberdade para pensar, para falar, para escrever, para debater ideias e, claro está, para discordar!
Termino (novamente) com Miguel Torga, citando aqui um verso do seu poema “Liberdade”: “Liberdade, que estais em mim, / Santificado seja o vosso nome.”
“Não passarão!”.