Marcelo Rebelo de Sousa, por esta altura, já conquistou a honrosa distinção do mais desastrado Presidente da República Portuguesa, pós 25 de Abril. Conseguiu mesmo superar o anterior incumbente do cargo, o esfíngico Cavaco, que cessou funções ao fim de uma década com a pior apreciação de sempre atribuída a um presidente em fim de mandato.
Marcelo infantilizou e vulgarizou a instituição a que preside. A sua política de “afetos” expôs a mais alta figura do Estado português ao ridículo e à banalização.
Mas se o seu primeiro mandato foi insólito na forma, há que admitir que na substância Marcelo conseguiu fazer uma gestão cuidadosa das circunstâncias políticas domésticas, o que contribuiu para que um governo de coligação de esquerda conseguisse terminar o seu mandato.
Porém, o seu segundo mandato tem sido simplesmente desastroso. Marcelo é hoje, objetivamente, o maior fator de instabilidade política em Portugal.
O exemplo mais ilustrativo do seu temperamento caprichoso e imprevisível foi o seu discurso na tomada de posse de António Costa como Primeiro-ministro, em abril de 2022. Marcelo reinterpretou a Constituição Portuguesa, transformando uma eleição legislativa numa eleição unipessoal, para avisar que uma eventual demissão do PM implicaria a dissolução da Assembleia da República. Ou seja, o PR autolimitou-se, estreitou a sua margem de manobra e reduziu as suas opções futuras, precisamente o contrário do que se lhe recomendaria.
Nos próximos meses iremos todos redescobrir a importância da estabilidade política, um bem público que o PR tem a obrigação de preservar.
Não foi essa a opção tomada. O resultado foi um País ingovernável, a extrema-direita fortalecida e um governo enfraquecido, isolado e transformado numa comissão eleitoral já a antecipar as próximas eleições.
Era difícil fazer pior. Portugal viverá os próximos tempos em crise política. Uma crise que não estava escrita nas estrelas e que se iniciou a 7 de novembro através de um golpe palaciano que ainda dará muito que falar…