Passam agora 5 meses desde o incêndio do Hospital do Divino Espírito Santo, já muito se falou sobre este processo, é certo, mas o rol de contradições que se vai adensando não permite deixar de voltar a ele.
No passado dia 24 de setembro foi anunciado, pela Secretária Regional da Saúde, a reabertura de duas salas do Bloco Operatório do HDES. Uma boa notícia para os Açorianos, dando razão a todos os que defenderam ser possível recuperar aqueles espaços e colocá-los de volta ao serviço dos utentes. Sendo uma boa notícia, é bom lembrar que, reabrindo duas das sete salas de Bloco Operatório daquela unidade de saúde, continua a ser manifestamente insuficiente para repor a capacidade de resposta existente à data do incêndio, a 4 de maio passado.
Anunciando a reabertura das duas salas do Bloco Operatório, o Governo Regional fez o agradecimento público a uma das unidades de saúde que colaboraram, desde a primeira hora, com o HDES, a Clínica do Bom Jesus. Um reconhecimento justo e merecido e, estou certa, comungado por todos os açorianos. Acoplada, ao anúncio e ao agradecimento, vem a cessação da cooperação entre o HDES e a Clínica do Bom Jesus. Uma verdadeira contradição face ao agravamento significativo das listas de espera para a realização de cirurgias e de consultas de especialidade.
Se as listas de espera na saúde já eram um problema na Região antes do incidente no HDES, após este evento tornou-se muito mais sério. Com capacidade instalada disponível para combater estas listas de espera, vem o Governo Regional cessar a cooperação, desperdiçando a capacidade instalada e deixando doentes sem resposta. Como se a espera em questões de saúde fosse um mal menor!
A estratégia correta seria recuperar os espaços do HDES e manter as colaborações com as unidades de saúde, de modo a mitigar o agravamento nas listas de espera ocorrido nos últimos cinco meses. Falamos de vidas, os riscos daqui decorrentes para a saúde dos Açorianos não podem ser desvalorizados. Continuamos a ter grávidas a serem deslocadas de São Miguel para realizarem os partos em outras ilhas, sobrecarregando unidades que não estão preparadas para tal; continuamos a ter doentes deslocados para o continente e para a Madeira por falta de resposta na Região; continuamos a assistir ao agravamento das listas de espera na saúde.
Com esta consciência, o Partido Socialista dos Açores apresentou 11 medidas ao Presidente do Governo Regional, para a viabilização do Plano e Orçamento para 2025, elegendo uma delas na área da saúde. Medida direcionada, exatamente, para o combate às listas de espera, garantindo que sejam tomadas medidas que permitam recuperar, mais rapidamente, quer a realização de cirurgias, quer o acesso a consultas de especialidade.
Passaram cinco meses e continuamos confrontados com uma clara incapacidade de resposta do Governo perante a situação resultante do incêndio no HDES. Com o Secretário das Finanças a dizer que a República não pagou e a Secretária da Saúde a confessar que afinal ainda não fizeram as contas dos prejuízos sofridos, mais uma contradição deste governo. Com o Conselho de Administração daquela unidade em estado de sítio, mais um fator de instabilidade com impacto negativo na confiança com que os açorianos olham para o Sistema Regional de Saúde.
Um rol de contradições que teima em não estancar para mal da saúde de todos nós. Os açorianos precisam e merecem muito mais. É urgente saber definir prioridades e, para nós, a saúde dos Açorianos é uma delas.