O regresso de Donald Trump à presidência dos EUA traz consigo um conjunto de políticas que parecem reforçar divisões e reavivar tensões nas relações transatlânticas. A retórica "America First", que marcou o seu primeiro mandato, volta agora com ainda mais força, ameaçando o espírito de cooperação que tem sido uma marca da relação entre a Europa e os EUA ao longo das últimas décadas.
Para os Açores, que sempre estiveram no centro do Atlântico como ponte entre os dois continentes, as implicações são claras. A insistência de Trump em renegociar acordos comerciais com a União Europeia, muitas vezes ignorando a necessidade de equilíbrio entre parceiros, cria incerteza sobre o futuro da nossa economia e das parcerias estratégicas existentes. Mais preocupante ainda é a abordagem unilateral à segurança e à defesa, onde os EUA pressionam os países europeus a aumentarem os seus gastos militares, mas não oferece garantias de uma cooperação genuína.
A Base das Lajes, que historicamente simboliza a relação estratégica entre os EUA e os Açores, corre o risco de ser apenas um instrumento de conveniência para a administração Trump. Esta visão instrumental contrasta com o potencial transformador que esta parceria poderia ter em áreas como a ciência, a investigação oceânica ou a energias.
Enquanto a União Europeia tenta liderar na agenda climática e na transição energética, os EUA afastam-se desses compromissos. Para Portugal, nomeadamente para os Açores, que têm um imenso potencial nas energias limpas, este será sem dúvida um ponto onde não caminharemos juntos.
O momento exige, por isso, que os Açores, Portugal e a Europa no seu conjunto, se afirmem como aliados determinados, mas críticos, defendendo os valores da cooperação, da sustentabilidade e sobretudo do respeito mútuo. Afinal, ser parceiro não significa ser submisso, e o Atlântico é vasto o suficiente para proteger uma visão de futuro mais equilibrada e justa.
(Crónica escrita para Rádio)