Opinião

Porquê política?

Há perguntas que nos obrigam a parar, refletir e reconhecer que há escolhas que moldam o mundo em que vivemos. A política é uma dessas escolhas, quiçá a mais determinante de todas.

Num tempo em que a desconfiança cresce e a descrença nas instituições se espalha, é urgente recentrar a política naquilo que verdadeiramente importa: a ação transformadora ao serviço das pessoas. Porque a política, na sua essência, não é sobre cargos, partidos ou protagonismos, mas sim sobre comunidades, justiça, dignidade e esperança.

O 25 de Abril de 1974, data que celebramos por estes dias, é a prova viva disso. Foi através da ação política — corajosa, coletiva, determinada — que o país reconquistou a liberdade, a democracia e o direito à participação.

Nada daquilo que hoje tomamos por garantido surgiu por acaso. Foi conquistado com luta, com risco, com o sonho de um futuro melhor. E cabe-nos agora honrar essa conquista, mantendo viva a responsabilidade de intervir, de construir, de não deixar que os cravos murchem pela apatia.

O mundo não muda por si. A justiça social, a equidade no acesso à saúde, à educação, à habitação ou à proteção ambiental, não são conquistas automáticas. São vitórias que exigem compromisso, coragem e participação. Exigem políticas públicas pensadas com empatia, executadas com rigor e avaliadas com transparência.

Viver à margem da política pode parecer, a muitos, uma forma de proteção — um refúgio face à frustração ou à complexidade do sistema. Mas essa ausência tem consequências reais.

Onde há vazio de participação, há espaço para interesses menos nobres, para a perpetuação de desigualdades, para a normalização da injustiça.

A política influencia tudo: o hospital que nos acolhe, a escola que educa os nossos filhos, o transporte que usamos, o apoio a quem mais precisa. Ignorá-la é abdicar do poder de moldar o nosso futuro coletivo. É aceitar, em silêncio, que outros decidam por todos.

A participação política, seja através do voto, da intervenção cívica, do envolvimento autárquico ou parlamentar, é um ato de cidadania plena. É a escolha de não desistir, de intervir, de acreditar que é possível fazer diferente e melhor.

É a prova de que a esperança pode ser um motor de mudança.

Num tempo em que tantos se afastam, é vital lembrar que a democracia não se sustenta apenas em momentos eleitorais. Ela vive do acompanhamento diário, da exigência constante, da fiscalização atenta. E precisa, mais do que nunca, de cidadãos presentes — que se envolvem, que questionam, que propõem.

A política não é um palco reservado.

É um espaço coletivo. Um espaço onde cada pessoa tem o direito — e o dever — de participar. Porque quando a maioria se cala, o perigo não está apenas no que se ouve, mas sobretudo no que se deixa de dizer.

A ação política é, por isso, uma das formas mais nobres de acreditar na humanidade. É assumir que o bem comum vale o esforço, o desconforto e, às vezes, até o desgaste. Porque só com ação é possível continuar a fazer florescer os ideais de Abril — liberdade, justiça, democracia — na vida concreta de todos os dias.

Viver dentro da política não significa ser político. Significa ser cidadão. E ser cidadão é nunca abdicar do direito — e do dever — de participar.