Opinião

Outros Natais

Hoje, talvez por faltar menos do que uma dezena de dias para o Natal e por todo o lado já se respirar o espírito sazonal da solidariedade própria da época, não me apetece falar de novo acerca das questões políticas que estão na ordem do dia, nomeadamente da guerra declarada pelos centralistas de Lisboa e pelos seus acólitos locais á autonomia regional e às decisões legitimamente assumidas pelos órgãos de governo próprio da Região. Muito embora não me queira deter de novo sobre esta matéria, não conseguiria dormir em paz se não compartilhasse convosco a minha indignação pela posição do PSD nacional e local que, mais uma vez, por mero calculismo político, se põe ao lado daqueles que nos são hostis e que tudo fariam para que regressássemos ao estatuto de ilhas adjacentes de um império comandado do Terreiro do Paço. De entre as barbaridades assumidas por alguns protagonistas laranja, as de Marques Mendes e Alberto João são dignas de nota, pela negativa, já se sabe… O primeiro, ex-líder laranja chega ao ponto de advogar uma redução das transferências do Estado para a Região, como se tratasse de uma esmola que se dá aos “pobres açorianos”. As transferências emanam única e exclusivamente do cumprimento de uma Lei da República – Lei das Finanças Regionais – não estando ao sabor dos humores de qualquer comentador televisivo, líder ou candidato a qualquer protagonismo mediático. A Lei das Finanças Regionais, que veio regular de forma transparente as obrigações do Estado para com a Região, foi uma conquista dos açorianos através da acção firme e determinada do governo socialista liderado por Carlos César. Quanto a Alberto João Jardim que, conforme denunciado por Carlos César, “investe” quatro milhões de euros por ano, no Jornal da Madeira, para lhe incensar a governação, não se lhe reconhece qualquer legitimidade para meter a colher nas nossas “Sopas do Espírito Santo” e muito menos criticar uma medida social que irá evitar que 3.700 famílias vejam reduzidos os rendimentos mensais. É bom que se não esqueça que essa medida tem como principal opositor o PSD de Berta Cabral. Aqui para nós – que ninguém nos ouve – só me apetece perguntar: - aonde pára aquele velho PSD de Mota Amaral que se arvorava campeão da autonomia e que colocava gravatas pretas face ao centralismo de Lisboa? Pobre PSD aonde chegaste! Estes são outros natais! Mas, tinha dito que hoje não centraria a minha atenção nesses temas tão importantes e actuais mas, acabei por não resistir! Falava, no início, na solidariedade sazonal pois, infelizmente, só nessa época é que muita gente cumpre a “desobriga” de ajudar o próximo. Pior do que isso, será assistirmos, por vezes, ao “vamos brincar à caridadezinha” e a inflamados discursos assistencialistas e moralistas, leigos e clericais, que advogam o desprendimento dos bens terrenos, quando eles próprios são detentores de invejável património e usuários de bens luxuosos que, ostensivamente, não se coíbem de exibir aos pobres a quem dizem estar ao serviço. Para compor o acima dito, do dia de hoje, até à Festa do Menino, ainda teremos a oportunidade de assistir através dos jornais, das rádios e das televisões a reportagens resultantes do “escarafunchar” de casos de pessoas que, pelo seu infortúnio, são trazidas, por vezes por outros fins, às luzes natalícias da ribalta. Mas, estes são outros natais!