O Cardeal de Richelieu terá sido o primeiro estadista europeu a compreender os riscos de uma Alemanha unificada. É-lhe atribuída a responsabilidade de, através de uma diplomacia pragmática e heterodoxa para a altura, ter adiado a unificação germânica por dois séculos.
Só em 1871 é que a Alemanha se unificaria sob a liderança da Prussia de Bismark. Desde esse ano, e confirmando Richelieu, surgiu um imperativo político no continente europeu ainda hoje não completamente esclarecido: qual o estatuto da Alemanha na Europa?
A questão foi parcialmente respondida em 1945 depois do aniquilamento do III Reich de Hitler, com a consequente divisão da Alemanha em dois países.
Nos anos seguintes coube à RFA, à França e aos países do Benelux iniciarem o processo inédito de integração europeia pacífica, numa primeira fase apenas económica.
A queda do muro de Berlim em 1989, e a consequente reunificação Alemã, impulsionou o Tratado de Maastricht, 1992, que acentuou o papel do eixo franco-alemão e projectou a construção europeia a um novo patamar de integração, prevendo ampla alienação das soberanias nacionais.
Nos dezoito anos seguintes a Europa contou com uma Alemanha europeia, um país com um impressionante currículo na construção europeia, simbolizado pela adesão alemã ao Euro.
Porém, em 2010 a UE confrontou-se com as consequências mais sérias da grande crise financeira de 2008. O eurocepticismo com que a Alemanha respondeu aos desafios políticos da crise é preocupante e marcou o ano. A Alemanha parece dedicar à UE apenas a disciplina necessária para moldar as instituições europeias aos seus interesses, dando sinais de privilegiar a ligação à Rússia.
No Século XXI a resposta à antiga questão é simples: a opção é uma Alemanha europeia; o seu contrário, uma Europa Alemã, simplesmente seria mau para a Europa e péssimo para a Alemanha.