Não foi preciso esperar muito. Toda a oposição uniu-se numa coligação de interesses partidários contranatura, desde o Bloco de Esquerda ao CDS/PP, para derrubar o Governo de Portugal e o país começou a sofrer as consequências.
A reacção foi imediata. Pouco depois do “chumbo” parlamentar das medidas de actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento, as agências financeiras Standard & Poors e Fitch baixaram a notação da dívida soberana de Portugal. A Fitch vai mais longe, com o seu director Douglas Renwick a alertar que Portugal poderá precisar, muito em breve, - certamente até Junho - de apoio internacional financeiro.
Tudo isso já era esperado e não representa qualquer surpresa, o que é mais preocupante. Ou seja, todos os partidos desde os mais extremistas como o Bloco de Esquerda, até os de maior responsabilidade como o PSD, sabiam que este cenário era inevitável caso “chumbassem” as medidas do PEC.
Conclui-se, assim, que agiram conscientemente sem se importarem com o dia seguinte. Habitualmente, desavindos em todas as matérias, toda a oposição não hesitou, por um segundo que fosse, em derrubar o Governo. Aliás, até se assistiu a uma luta de protagonismo, com todos os partidos da oposição a gladiarem-se na apresentação de Projectos de Resolução que levariam, inevitavelmente, à demissão do Governo. Nenhum deles respondeu à pergunta que se imponha: Este comportamento de abutres políticos seria melhor para Portugal? Não responderam porque tinham medo da resposta.
Se nada disso era inesperado, a surpresa veio nos dias seguintes, com Pedro Passos Coelho a anunciar que o PSD admitia subir o IVA em Portugal. É o expoente máximo da desorientação política por duas razões: a primeira porque o líder do PSD tinha jurado, meses antes, que o PSD era frontalmente contra a subida de impostos. A segunda porque o IVA é um imposto “cego”, que atinge desde o mais rico até ao português mais pobre que vai ao supermercado.
Em Setembro, o presidente do PSD recusava-se a viabilizar o Orçamento do Estado para 2011 se a proposta do Governo incluísse um aumento de impostos e dizia mesmo que “a margem para negociação é esta: nós não aceitamos que o Governo vá buscar mais dinheiro ao bolso dos portugueses”. No dia 23 deste mês, Passos Coelho dava uma cambalhota e já afirmava que “ninguém de boa-fé pode hoje jurar que não tenha de mexer nos impostos”, com o partido a explicar que o imposto em causa é o IVA.
É impressionante. Passos Coelho só sabe mesmo atrapalhar a vida aos outros. Primeiro, a do Governo da República, na aprovação do Orçamento de Estado. Agora, a vida dos portugueses, reduzindo-lhes o poder de compra de bens essenciais.
Razão tem, por isso, Angela Merkel, que recebeu, esta semana, José Sócrates e Passos Coelho. Do primeiro, disse publicamente que estava “grata pelo trabalho feito na consolidação das finanças públicas” portuguesas. Ao segundo, da sua mesma família política, criticou por ter sido o cabeça-de-cartaz de uma coligação negativa para Portugal e para a Europa.
No meio deste comportamento político esquizofrénico do PSD, ficam os portugueses. Não ficava nada mal a Passos Coelho, mais uma vez, pedir desculpas aos portugueses. Resta saber se o perdoavam.
E é justo referi-lo. Mesmo quanto teve de tomar medidas duras e austeras, decorrentes das imposições da União Europeia para cumprimento dos objectivos no âmbito da contenção da despesa pública nacional, José Sócrates revelou-se um bom entendedor das dificuldades de viver num arquipélago disperso por nove ilhas.