Vivemos tempos conturbados – todos o sabem e todos o dizem por estas ou outras palavras. Mas admitir ou reconhecer este facto e lamentá-lo ou especular sobre as suas causas nada muda. Este é o cerne da questão que, com alguma frequência, passa ao lado das conversas e das reflexões.
Todos estão preocupados com o futuro. Mas uma preocupação omissa na actuação ou enviesada na sua expressão servirá para alguma coisa? Todos se mostram apreensivos com o amanhã (que é como quem diz, o que nos resta de 2011, 2012, 2013…). Mas grande parte dos legítimos representantes deste país encaminhou a sua apreensão de modo politicamente oportunista, economicamente irresponsável e financeiramente inconsciente.
Urgente era destituir Sócrates – dizia-se. A razão era inverter as medidas anunciadas no PEC, dar maior fôlego às famílias e descomprimir as dificuldades sociais. Poucos quiseram perceber – e muito menos assumir publicamente – que, qualquer que fosse o Primeiro-ministro à frente deste país teria de adoptar as referidas medidas para vencer a crise.
A força da realidade veio rapidamente recolocar o discurso do maior partido da oposição. Pedro Passos Coelho contradisse de imediato o que vinha dizendo anteriormente, e já não se coíbe de anunciar medidas que terão de ser tomadas em nome do país. Esquecendo que o PEC também era em nome do país. A luta político-partidária tem destas contradições… E a maior de todas as contradições – e nessa, direita e esquerda têm idênticas responsabilidades – foi querer levar o país a eleições antecipadas, destruindo o trabalho feito na União Europeia de credibilização do caminho a percorrer, provocando uma crise política cujos resultados só podem ser negativos neste preciso momento para o país, acelerando a crise financeira com despesas eleitorais absolutamente desnecessárias e inúteis para Portugal. Tudo isto com um aproveitamento eticamente reprovável das dificuldades sentidas pelas famílias, pelas pequenas empresas, pelo povo. Tudo isto sem dizer a verdade a esse mesmo povo em nome do qual todos dizem falar mas contam apenas o que mais lhes convém. E a verdade é que os PEC virão da direita, do centro ou da esquerda, do interior ou do FMI, mas virão seguramente e o país terá perdido um tempo precioso e um dinheiro que não tem em espera, gestão ordinária, campanha eleitoral, muita conversa vã e nenhuma acção, porque até os mais optimistas agora aguardam novas definições.
Alguém acredita que os partidos políticos representados na Assembleia da República não tiveram consciência de que estavam a provocar uma crise maior do que a existente no dia que chumbaram o PEC? Ninguém. Alguém acredita que foi a defesa ou o bem-estar do povo que moveu os partidos da oposição? Ninguém. Alguém acredita que estas eleições serão, estrutural ou conjunturalmente benéficas para o país? Ninguém.
A política é um serviço nobre, digno, de coragem e de elevação do bem colectivo acima do individual. É uma dedicação à causa pública e não há causa pública sem sociedade, pelo que o destinatário da política é sempre o povo. Qual foi o erro aqui então? Simples: a ganância cega ao ponto de esquecer que o povo é sábio…