O facto de Fernando Nobre ter aceitado ser cabeça de lista por Lisboa nas listas do PSD tem feito correr muita tinta. Os argumentos sucedem-se na defesa ou na condenação da atitude. Mas o que daqui releva são sobretudo dois factos incontornáveis. O primeiro o de que Fernando Nobre se apresentou às eleições para a Presidência da República como independente e supra-partidário. E sobretudo por isso conseguiu congregar o apoio de um número significativo de portugueses que se revêem nas “candidaturas da cidadania”, à semelhança aliás do que acontecera com Manuel Alegre. O cidadão julga censurar por esta via os partidos. E dá sustentação à conversa tipificada de que os partidos são uma espécie de agremiação de maus costumes. O segundo facto é que este anúncio sendo mau para Nobre é péssimo para o PSD. Muito contestado internamente, Nobre não tem um perfil que encaixe no partido que o acolhe. E cujo programa eleitoral desconhece. Fê-lo nas suas palavras porque era o que lhe dava “mais garantias”. Trai o seu eleitorado efémero que não se transferirá para o PSD e arrasa o capital acumulado. Sobretudo quando assumiu que só cumpre o mandato se for Presidente da Assembleia da República, e não como deputado. Ou seja, a condição prévia de Fernando Nobre não se coloca apenas ao PSD que o candidata, mas a todos os deputados que ainda não eleitos ele já destina que o devem eleger a ele. Este requisito prévio é no mínimo estranho. E assume que apesar de se candidatar a deputado não quer ser aquilo a que se candidata. Este é um mau princípio. E arrasa o candidato e a candidatura. Parece que afinal Fernando Nobre tem um propósito bem definido. O PSD é apenas o trampolim. Não tendo podido ser Presidente da República Nobre tem uma nova ambição. Que se esforça denodadamente por cumprir. Mas o que pode isso interessar a quem eventualmente o queira eleger?