Mais do que poder criticar, denunciar ou discordar, viver em liberdade significa ser pessoa com dignidade.
E viver com dignidade é afirmar valores, princípios, ou melhor, é dizer que acima dos interesses económicos ou políticos está o respeito pelo outro, a promoção da saúde, o desenvolvimento das capacidades, a solidariedade para com os mais frágeis, o combate a toda e qualquer forma de exploração ou abuso.
Foi por causa destes valores que, ainda hoje, vale a pena festejar o dia em que acabou a ditadura e o povo disse Não a um regime político, que calava as vozes discordantes, torturava os que denunciavam abusos de poder e anulava as críticas com um lápis azul.
Foi para devolver às pessoas o direito à escolha, à opinião e também a oportunidade para aprender, investir e contribuir para o desenvolvimento do país, que assumimos a democracia como a única forma de viver em liberdade.
Viver em liberdade significa acreditar que o mundo pode ser melhor, mais justo, onde há lugar para todos, no respeito pelas suas diferenças e potencialidades.
Um país que defende o princípio da liberdade não é um país sem problemas. Alguns têm a ousadia de duvidar da importância do fim da ditadura, porque reconhecem o quão difícil é viver em democracia e o quão exigente é lutar por direitos, por paridade, igualdade de acesso e por um desenvolvimento que não desrespeite os direitos humanos.
Mas será que alguém pode ter saudades de um país onde imperava o analfabetismo, a censura, a exploração e os abusos de poder, a ausência de direitos das mulheres ou a discriminação institucionalizada?
Portugal dizia ser e ter, no tempo das colónias e das ilhas adjacentes, um império. Mas, a custa de quê? De milhares de portugueses que mal conseguiam o suficiente para comer, condicionados por um quadro político que não podiam contestar. A quem se ensinava a ter medo, vergonha e a aceitar a humilhação, para assim se manterem caladas as gerações mais novas.
É um desafio ser livre, porque é uma questão de consciência e responsabilidade, do que queremos, pensamos e podemos fazer.
Se desistirmos de contribuir, se nos acomodarmos na mediocridade, se não corrigirmos os erros e alterarmos os métodos e se nos afastamos dos valores da dignidade humana, pomos em causa a liberdade que a geração dos nossos pais, ou avós, conquistou.
Não somos livres para tudo poder fazer ou para tudo prometer, mas para defendermos as pessoas e trabalharmos pelo desenvolvimento do país.
Por isso é que a liberdade não foi conquistada pelos políticos, nem mesmo os militares de Abril podem reivindicar direitos de autoria sobre este princípio. A liberdade não lhes pertence. Ela ganhou espaço com a revolução de 74, mas a sua vivência depende dos portugueses, de todos nós.
A liberdade, não é um privilégio de alguns, mas um direito de todos. Não é uma prerrogativa dos comentadores, mas daqueles que pensam. Não dá poder aos governos, mas responsabiliza quem toma decisões, seja a que nível for.
Viver em liberdade é ter consciência que a felicidade dos outros também depende de mim.