Opinião

Um “Desconhecido” Ilustre

Listas conhecidas para as próximas eleições legislativas e os partidos políticos vão lançando, directa ou indirectamente, as suas farpas nas listas dos adversários. A nível nacional, assistimos a uma atitude tão inédita quanto absurda em democracia: o PSD convidou um candidato para a Presidência da Assembleia da República, subvertendo as regras democráticas. O candidato já disse que não seria deputado, seria Presidente, mas depois arrepiou caminho porque a sua falta de humildade contradisse de modo chocante o seu discurso de serviço do país. Agora admite ser o que for útil… mas já não convence ninguém. Com um passado honroso como profissional, Fernando Nobre perdeu toda a credibilidade política ao brincar a salta-pocinhas com Mário Soares, BE, PSD… e perdeu credibilidade pessoal ao confessar desconhecer o programa com que o PSD se vai apresentar a eleições! Alguém aceita o que ignora? Sem outros comentários… Passos Coelho não acerta uma. Os disparates falam por ele. Desmentiu-se quanto ao telefonema que afinal foi um encontro com o Primeiro-ministro antes do anúncio do último PEC; desmentiu-se nas medidas do PEC que reprovou por serem demasiado austeras – disse-o aos portugueses – e demasiado brandas – escreveu-o na carta para os europeus. Em pouco mais de um mês já vence as contradições de seis anos de Sócrates… Por cá, as listas também dão que falar. Mesmo quem não se deu ao trabalho de procurar outros candidatos, e quer dar mais do mesmo, preocupa-se em denegrir as novidades da lista do partido maioritário, afirmando que o PS apresentava desconhecidos nos primeiros lugares das suas listas! Ninguém ensinou que na política, tal como na vida, quando não há nada a dizer, o silêncio é de ouro? Alguém que se movimente na área da cultura, da história, do associativismo e da imprensa desconhece o Dr. Carlos Enes? Não terei tempo de enunciar aqui, ainda que muito sumariamente, o curriculum de quem aceitou, para honra do Partido Socialista, integrar em segundo lugar a lista candidata à Assembleia da República. São mais de uma dezena de livros publicados (entre os quais um romance), dois opúsculos, dezenas de artigos em Revistas como História e Sociedade, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Ler História, Actas de Colóquios Internacionais, Atlântida, Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Instituto Açoriano de Cultura, Actas do Fórum Roosevelt (uma edição da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), quarenta conferências, quinhentas entradas na Enciclopédia Açoriana, várias exposições de que foi Comissário… tratando todas estas publicações uma boa diversidade de temas históricos, culturais, económicos, políticos, passando pelas artes modernas do cinema e da fotografia, e também pela pesquisa na área da comunicação. Carlos Enes tem uma notável e relevante participação intelectual nos Açores e no Continente, um Mestrado em História dos séculos XIX e XX e na docência já passou por duas Universidades para além do Ensino Secundário. Saliento talvez o capítulo da sua autoria nos dois volumes da História dos Açores organizados pela Universidade e uma curiosidade de somenos importância: uma das conferências foi a convite da Câmara Municipal de Ponta Delgada! Mais haveria a dizer quanto ao “desconhecimento”, mas o espaço é limitado. Outras oportunidades virão! Feliz Páscoa.