Opinião

Eu defendo os Açores

Dizer, “defendo os Açores”, não é uma mera afirmação de circunstância, num contexto de dificuldade. É um compromisso assumido, melhor dizendo, vivido. Porque a açorianidade não é simbólica, mas a afirmação de uma identidade que une os açorianos e tem de ser defendida politicamente. É uma bandeira que se agita, perante aqueles que desconhecem o que é viver em ilhas ou como pode ser sustentável o desenvolvimento de uma região dispersa, como é a nossa. Defender os Açores não significa dizer ao país, “deixa estar que nós pagamos”, mas afirmar, junto do todo nacional, que a autonomia não é isolamento ou abandono, mas integração e respeito pela diferença. Por isso, é de estranhar que a líder regional do PSD tenha afirmado que manteria como serviço público os centros regionais da RDP e RTP, apesar de o seu partido propor a privatização da empresa mãe. Duas lógicas distintas, que não sobrevivem politicamente. A propósito, é bom lembrar que os deputados do PSD Açores propuseram recentemente uma resolução, aprovada por maioria na Assembleia Legislativa, onde se afirma que, ao contrário do que pretendem alguns gestores e políticos na República, movidos por preconceitos centralistas, “a existência, inequívoca de um serviço público de rádio e televisão na Região, deve ser garantida pelo Estado, em condições de eficácia e qualidade, adequadas à nossa realidade arquipelágica” (Resolução 2/2011, de 22 Fevereiro). Os Açores de hoje estão mais unidos, mais conhecidos no mundo e respeitados no quadro nacional e internacional. Isso também resulta de uma gestão equilibrada das infraestruturas que garantem as ligações entre ilhas, com o continente e com o mundo. Hoje, todas as ilhas estão dotadas de aeroportos condignos e São Miguel ganhou uma dimensão acrescida nas ligações por mar, com a construção das Portas do Mar. Mas defender os Açores não é dizer, “deixa que nós pagamos”, mas assumir de forma partilhada com o todo nacional, a sustentabilidade dos aeroportos, actualmente geridos pela ANA, como é o caso de Ponta Delgada, Horta, Santa Maria e Flores que o PSD pretende agora regionalizar, sobrecarregando a administração regional com o custo da sua manutenção. Aliás é de estranhar, quando a construção das Portas do Mar, empreendimento de iniciativa regional, foi duramente criticado quanto à sua sustentabilidade, apesar de hoje representar uma nova faceta do turismo nos Açores. Defender os Açores é garantir a unidade e o respeito pela autonomia, consagrado, entre outros, no Estatuto Político Administrativo que o PSD acabou por não defender na Assembleia da República, ou na Lei das Finanças Regionais que o PS garantiu manter-se inalterada, apesar das medidas de austeridade, negociadas com as instâncias europeias. Se para o PSD a baixa de 10% no diferencial do IVA é uma “machadada na autonomia”, o que dizer então da sua proposta de transferência dos aeroportos para a administração regional ou da promessa de manutenção de um centro regional de rádio e televisão como serviço público, em paralelo com a privatização da RDP e RTP a nível nacional? Defender os Açores, não é dizer “deixa que nós pagamos”, mas assumir com firmeza que a autonomia implica solidariedade nacional, o que não significa isentar os açorianos do esforço que os tempos actuais exigem, de contenção, austeridade ou redução de benefícios sociais. É nas horas difíceis que se reconhece quem “defende os Açores”.