As eleições são um momento de clarificação, em que os partidos têm de afirmar as propostas que têm para o país e de que forma pretendem implementá-las. Ainda recentemente, Pedro Passos Coelho esteve nos Açores. Em teoria, seria o momento de excelência para explicar aos açorianos as questões importantes que estão em jogo nestas eleições.
A pergunta que se coloca é a seguinte: Será que os açorianos ficaram mais esclarecidos sobre o que ele pensa para os Açores depois da sua vinda cá?
Não, não ficaram porque não respondeu às questões que verdadeiramente interessam.
Se calhar, porque não teve oportunidade entre tanto tempo que passou em aeroportos.
Espera-se que, pelo menos, tenha ficado elucidado sobre uma das mais graves propostas do seu programa para os Açores.
Pedro Passos Coelho quer passar para a tutela da Região os quatro aeroportos açorianos geridos pela ANA.
Por outras palavras, o PSD quer transferir os custos para os Açores destes aeroportos para que a ANA se torne mais apetecível na sua venda a privados.
O PSD/Açores, sempre tão lesto a reclamar a redução dos custos das operações aéreas, esqueceu-se de se insurgir sobre esta medida.
Não terá lido, talvez, uma notícia recente de um jornal nacional que diz “No cenário de privatização da ANA, se os quatro aeroportos (Ponta Delgada, Horta, Santa Maria e Flores) por esta gerida passassem a ser administrados individualmente, as taxas a cobrar por cada passageiro teriam, segundo um estudo do Boston Consulting Group, um acréscimo de 260 por cento”.
Mas há mais. Nem um dos pilares da Autonomia, enquanto elo de ligação dos açorianos, escapa à ânsia do PSD de se livrar dos custos das regiões.
O serviço público de rádio e televisão nos Açores está em risco. Não pelo que diz o PSD de Passos Coelho, mas, neste caso, pelo que teima em não dizer.
Passos Coelho quer privatizar a RTP nacional, propõe soluções para outros canais do grupo, mas esquece, pura e simplesmente, os centros regionais dos Açores e da Madeira.
Se a receita for a mesma da aplicada para os aeroportos, já se está a ver a sua solução: querem um serviço público de televisão, então paguem-no!
Diz o PSD Açores que continuará a haver serviço público de televisão incluído no serviço público nacional. Mas o que quer isso dizer? Que esse serviço vai ser pago pelo Estado ou vai ser pago pela Região? Quando diz que a RTP/Açores vai ser incluída no canal público garantido pelo PSD caso seja Governo, está a defender que o canal público nacional vai ter um telejornal dos Açores a uma determinada hora? Ou seja, uma mera janela em detrimento de um centro de produção regional?
São questões que já foram colocadas ao PSD Açores variadíssimas vezes e sobre as quais nunca obtivemos respostas.
O PSD de Berta Cabral tem toda a campanha eleitoral que agora se inicia para esclarecer os açorianos. Para já, é legítima uma leitura muito clara: o PSD de Passos Coelho quer sanear as contas públicas a todo o custo, mesmo que isso inclua passar para as regiões os custos que devem ser assumidos pelo Estado ao abrigo da solidariedade nacional.
Na verdade, a conclusão é muito simples. No caso da ANA, o PSD quer que os privados fiquem com o lombo, ou seja, com os aeroportos rentáveis do continente, ficando para os açorianos os ossos, os aeroportos de Ponta Delgada, Horta, Santa Maria e Flores. Não é de espantar para quem acha que a troika foi branda de mais com Portugal.