Portugal precisa de uma reforma de cima para baixo. A grande maioria dos portugueses já percebeu, e vai sentir nos próximo tempos de uma forma dura, que o país está numa situação crítica, que levou à intervenção externa do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia.
Perante isso, já se torna habitual que os cidadãos conscientes façam contas à vida, tentando arranjar formas de conseguir manter um orçamento familiar equilibrado face aos constrangimentos que se avizinham. É, no fundo, a necessária adaptação dos portugueses a uma nova realidade que vai contrastar com o facilitismo de décadas que marcava a vida pública nacional.
É, assim, necessário que todos se mobilizem para ajudar Portugal a ultrapassar as dificuldades. Políticos, partidos, sociedade civil, sindicatos, parceiros sociais, cidadãos, todos têm de ter capacidade de ajudar nesta fase.
O que é necessário que todos percebam - desde os representantes eleitos pelo povo e das classes profissionais, passando por patrões e sindicatos – é que não há alternativa. Até há pouco tempo a discussão fazia-se no campo de quais as áreas prioritárias para reformar. Actualmente, a discussão faz-se na dimensão das reformas que todas as áreas terão de sofrer a muito breve trecho.
É sabido que quase todos os ministros que tentaram implementar reformas de fundo em Portugal não se mantiveram no cargo por muito tempo, devido às pressões corporativistas. Saúde e Educação são os sectores mais recorrentes.
Sendo certo que as reformas futuras serão muito mais exigentes, é bastante previsível que estas corporações infligem ao Governo um desgaste rápido e acentuado.
Não basta ter uma maioria na Assembleia da República. Isso foi o mais fácil. O mais difícil será, assim, juntar vontades genuínas para transformar o país. Em várias décadas, nenhum Primeiro-Ministro conseguiu completar esta tarefa na sua plenitude. Mas também é verdade que nenhum foi obrigado, por entidades externas, a desenvolver um plano tão austero como o actual.
A questão, em si mesma, é muito simples: ou todos nós, entidades públicas e privadas, encarnam o espírito que esta será, talvez, a oportunidade derradeira para reformar Portugal, ou corre-se o sério risco de estar a pedir aos portugueses esforços hercúleos para resultados mínimos.
Todos devem ser solidários com esse esforço. Mas os objectivos não podem ser atingidos a qualquer preço. Já é uma grande dificuldade viver num arquipélago disperso por nove ilhas. O Estado tem o direito de nos impor metas, mas nós temos o direito de definir como essas metas são atingidas.
Nesse âmbito seremos, como sempre, intransigentes na defesa dos Açores e dos açorianos.