As intervenções públicas da líder do PSD certamente constituem um caso de estudo. À medida que o tempo corre, são cada vez mais notórias e frequentes as incongruências verificadas entre dois discursos ou quando assume os distintos papéis que desempenha em simultâneo, ora como Presidente da Câmara de Ponta Delgada ora como ainda líder do PSD.
Reportando-nos a declarações recentes, tem sido frequente ouvir sair da boca da líder laranja declarações que advogam o crescimento da iniciativa privada e, consequentemente a diminuição da intervenção estatal na vida dos açorianos. Não poderíamos deixar de estar de acordo com Berta Cabral pois, cada vez mais, sem abdicarmos da importância do papel do estado na sociedade, há que acalentar a iniciativa dos privados e não obstaculizar, ativa ou passivamente, os projetos vindos da sociedade civil que criam riqueza e promovem emprego e desenvolvimento.
É bom relembrar que em 1995, quando Berta Cabral era uma alta responsável do Governo dos Açores, exercendo as funções de Secretária Regional das Finanças no governo social-democrata, o peso do sector público era muito superior ao atual. A situação existente era de, para cada 2 funcionários públicos havia apenas 3 no sector privado, ou seja havia 20.000 trabalhadores na função pública e 30.000 empregados pelas empresas privadas. Hoje, a situação é completamente diferente pois, por cada 2 funcionários públicos existem 6 trabalhadores no privado, ou seja uma relação de 20.000 no público para 60.000 no privado.
Para quem possa estar mais distraído, nada melhor do que a apresentação de factos que contrariam discursos plenos de “boas intenções” que não refletem a ação verificada na prática. Por iniciativa municipal foi construído o Parque empresarial Azores Park que, à época, atraiu algumas empresas para aquele empreendimento. Lamentavelmente, não deverá ter sido considerado que num raio de dois quilómetros a iniciativa privada investia num equipamento equivalente que viu a sua capacidade instalada não preenchida na totalidade, com as naturais consequências negativas e, por outro lado, inviabilizada a esperada ampliação prevista do projeto inicial.
Um outro dinâmico grupo económico, também açoriano, anunciara ao tempo promover, na mesma zona, um excelente parque empresarial, o qual se não veio a concretizar. Essa arrojada iniciativa, eventualmente foi abortada perante o excesso de oferta verificado face à intromissão da câmara de Berta Cabral numa área que deveria ter deixado completamente à livre iniciativa privada. Como marco histórico, ainda hoje permanece na antiga estrada da Ribeira Grande, um painel publicitário que anuncia o dito parque empresarial!
Será assim que se apoia o crescimento da iniciativa privada? Cremos bem que não!
Mudando de assunto, não podemos evitar um registo acerca da posição do deputado Duarte Freitas face à comparação entre a dívida da Madeira e a dos Açores, bem como à não existência de ilegalidades nas contas do governo açoriano. Apesar de, na maioria das vezes, discordarmos das posições políticas do deputado da ilha montanha, como democrata e açoriano, tiramos-lhe o chapéu pela coragem e frontalidade em defesa dos Açores no caso vertente. João Jardim, como seria de esperar, não tardou em responder ao deputado regional desferindo um ataque aos Açores, aos açorianos e ao próprio PSD de Berta Cabral. Duarte Freitas, reassumiu a sua posição. Era esperado que da parte da líder laranja houvesse uma clara e firme declaração em defesa do seu líder parlamentar e das posições publicamente assumidas em defesa dos Açores! Vã esperança! Berta Cabral limitou-se a desvalorizar o assunto e tentar ingloriamente tapar o sol com a peneira! Nem uma palavra firme na defesa de Duarte Freitas, da posição por ele assumida e, muito menos, dos Açores! Bem pelo contrário, em comparações totalmente descabidas entre as duas regiões autónomas, colocou os Açores numa posição de pobres e coitadinhos! Pobres e coitadinhos fomos nós quando o governo de Mota Amaral prescindiu de fundos comunitários que pertenciam aos Açores para viabilizar as megalomanias aeroportuárias de João Jardim!
A falta de solidariedade verificada por parte da líder laranja para com os autarcas laranja aquando a última derrota eleitoral, ou para com o mesmo Duarte Freitas ao ser preterido, como candidato a deputado europeu, a favor da mandatária de Cavaco Silva, Patrão Neves, veio de novo à tona de água. Como diria o outro: - São feitios!
Não querendo de modo algum interferir na vida interna do PSD, deixo aqui uma recomendação. A atual liderança laranja que se cuide. Face ao esperado desaire de Berta Cabral nas próximas eleições regionais, Duarte Freitas, poderá já estar a preparar-se para ser o senhor que se segue!