No passado dia 24 de Setembro, na Galeria Arco 8, em Ponta Delgada, o candidato do Partido Socialista à Presidência do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, reuniu-se com artistas e agentes culturais da nossa região para ouvir as recomendações e contributos daqueles que mais proximamente lidam com parte do espectro cultural dos Açores, a fim de serem mais-valias para complementar a proposta de plano do próximo Governo Regional dos Açores para a área da Cultura.
À saída do encontro, o candidato deixou como mote a importância que o contributo das indústrias culturais e criativas poderão ter para o desenvolvimento dos Açores – algo até agora avançado apenas pela Juventude Socialista Açores nas conferências Geração Activa, Geração de Ideias, e plasmado no contributo entregue ao candidato aquando da apresentação pública da proposta de plano de governo.
A JS/A (ao contrário das restantes juventudes partidárias) tem-se afirmado como estando na linha da frente na defesa dos interesses dos jovens açorianos, sendo a aprovação dos orçamentos participativos a sua mais recente vitória em prol da nossa juventude – uma vez que garante a possibilidade de voz de representantes da juventude nas discussões dos orçamentos municipais dos Açores. A aposta nas Indústrias Culturais e Criativas (ICCs) como um vector de desenvolvimento de riqueza que importa explorar vem de novo mostrar que a JS/A está atenta ao sector e que tem propostas efectivas para a concretização dessa potencialidade.
Ouvir os intervenientes mais directos no que concerne à cultura como um todo, e às ICCs em particular, por parte de Vasco Cordeiro, traz naturalmente à discussão aquilo que se pode entender por Indústria Cultural e/ou Criativa e de que forma podem estas indústrias ser contributos efectivos ao desenvolvimento da nossa região.
Nos dias que correm, falar-se de cultura apenas como manifestação per se e da produção artística como um produto directo da chamada arte pela arte não só é redutor como também pouco recomendável. A par destas manifestações, o nosso quotidiano tem-nos apresentado os mais variados artistas formados em áreas criativas específicas (como o design gráfico, design editorial, fotografia, vídeo, design de moda, ilustração, entre outros), que estão aptos a lançar no mercado peças de consumo, soluções criativas para publicidade e marketing, e demais produtos culturais e criativos que podem ser geradores de riqueza.
É importante, para tal, a abertura e consciência da necessidade destas áreas criativas na melhoria da competitividade das nossas empresas, a par da abertura necessária para o entendimento de que a arte e a criatividade podem ser aliados importantes da economia e da promoção (quiçá turística também) da nossa região e da nossa cultura. Essa abertura consegue-se através da desmistificação contínua e progressiva de alguns “tabus” aliados à cultura, como sejam a não mercantilização da mesma e o “artista” como um ser humano alheado e estranho.
Nada mais preconceituoso. Há mercado sedento de novas propostas criativas e há criativos sedentos de novas propostas de mercado – o que é importante são as condições para que estas novas indústrias possam surgir e provar a sua mais-valia competitiva. Sendo a Cultura uma área tão vasta, torna-se estranho não aceitar que haja uma ligação directa entre a criatividade e a economia, da mesma forma que se torna estranho pensar-se que a Cultura é apenas um “saco roto” ou um “mal menor” e que serve para se atribuírem uns subsídios a vulso a artistas com projectos a vulso.
Nada mais falso. A Cultura, a par da Educação e da Saúde, deve ser entendida como uma área essencial ao crescimento, desenvolvimento e formação dos açorianos, em contraciclo com a actuação que se tem visto pelo Governo da República que diminui e reduz ao mínimo uma política cultural sem apresentar alternativa, rumo ou solução. A Cultura, a par do nosso património edificado, é a base identitária dos açorianos, a nossa construção colectiva mais importante e que (vejamos a possibilidade do turismo cultural) pode ser substrato para a geração de riqueza.
Aliar a Cultura à Economia não é heresia. É, antes de mais, a percepção da modernidade dos nossos dias, e a consciência de que os produtos culturais e criativos podem entrar no mercado e gerar riqueza. Não se trata de mercantilizar a Cultura e reduzi-la à sua componente de mercado, de todo, e como tão bem referiu Vasco Cordeiro à saída do encontro com artistas e agentes culturais. Trata-se tão-somente de aceitar a possibilidade e de se derrubar o tabu em torno desta questão.
E porque não?