Opinião

Uns em detrimento de outros!

Não foram poucas as vezes, nas últimas semanas, que tenho assistido na opinião publicada açoriana à criação de um certo divisionismo classista, inspirado numa preocupação da total (repare que não afirmei justa) distribuição dos sacrifícios e de uns benefícios por todos os açorianos e não apenas por alguns! O motivo: a remuneração complementar! Tivemos jornalistas indignados a escrever, ex-políticos indignados a escrever, jornalistas indignados a perguntar aos políticos indignados e jornalistas indignados a perguntar aos amigos dos políticos indignados. A ideia criada tem uma premissa simples que convence até o mais fanático dos apoiantes do Governo: “o Governo dá benefícios aos funcionários públicos que ganham até 3050 euros e esquece a restante sociedade nomeadamente, os mais desfavorecidos!” A narrativa criada foi tão bem feita que até encontrei alguns funcionários públicos com algum sentimento de culpa pelo facto de virem a receber remuneração complementar. O problema é que toda esta história é uma mistificação! Em primeiro lugar, não é verdade que sejam os funcionários públicos os mais beneficiados pelas políticas do Governo dos Açores! É falso! Os mais apoiados são, na verdade, os mais desfavorecidos, os desempregados, as crianças e os reformados e pensionistas. Os primeiros a criticarem a remuneração complementar, são os que primeiro se esquecem de apoios como o complemento de pensão, o complemento ao abono de família, o apoio à compra de medicamentos, as dezenas e dezenas de programas de emprego e formação profissional, as taxas moderadoras mais baixas na saúde e muitas outras políticas públicas de apoio às famílias. Nem as empresas ficaram de fora deste esforço do Governo dos Açores, dos quais são bons exemplos as várias linhas de crédito disponíveis, o apoio à contratação de desempregados ou programas de incentivo ao investimento, à modernização e à exportação. Em segundo lugar, não é verdade que os funcionários públicos tenham tido benefícios e regalias com a remuneração complementar. É falso! Antes pelo contrário, são o sector mais penalizado, perderam, isso sim, salário em 2014 e pagaram mais impostos devido ao Governo da República, que o Governo dos Açores, com os seus parcos recursos, como tem feito em todos os sectores da sociedade, procurou tentar atenuar. Por último, é verdade que esta Via Açoriana tão criticada pelos Velhos do Restelo dos costume contraria a cultura tão apoiada de austeridade e anti-Estado provinda da República. Porque se acredita que o desenvolvimento de uns não se faz à custa dos outros, antes pelo contrário, faz-se pela promoção da igualdade de oportunidades. Porque se acredita que nos Açores é possível fazer diferente. Em suma, ter um caminho próprio e justo!