I. É de uma grande infelicidade vir aos Açores falar de economia da Defesa e de oportunidades para as empresas açorianas precisamente na altura em que a Região sofre os terríveis efeitos do desinvestimento da Defesa dos Estados Unidos em Portugal e tem assistido, com incómodo, ao silêncio equívoco das autoridades nacionais do setor. Talvez por isso a Senhora Secretária de Estado da Defesa, Dra. Berta Cabral – principal dinamizadora da Conferência “Economia da Defesa – Uma oportunidade estratégica para Portugal”, que decorreu segunda-feira, em Ponta Delgada – sentiu necessidade de preparar terreno e suavizar eventuais reações de desconforto. Numa ação de sensibilização para as virtudes das Forças Armadas, organizada pela JSD da Ribeira Grande, afirmou, em jeito de justificação, que “a decisão dos Estados Unidos não foi uma surpresa” e que “foi feito o que era possível para reverter a situação”. O problema é que, além de não se conhecer uma só ação da parte do Ministério da Defesa Nacional para resolver o que quer que seja relativamente à diminuição da presença norte-americana nas Lajes, não era isso que pensava e dizia a Berta Cabral líder do PSD/Açores e nem sequer era isso que afirmava a mesma Senhora Secretária de Estado há apenas três ou quatro meses atrás. II. Enquanto líder do PSD/Açores, na altura em que não reconhecia semelhanças com Passos Coelho, a Dra. Berta Cabral também não tinha muitas dúvidas sobre o tom com que se devia lidar com o nosso parceiro americano. Aquando da última renegociação do Acordo Laboral, por exemplo, nos idos de 2009, apelava a que “a defesa dos interesses dos trabalhadores portugueses seja feita de forma rigorosa e justa, pois essa é a contrapartida que temos da existência de uma base americana nos Açores”. E acrescentava, com voz mais grave, a propósito da eventual criação de um campo de treino para aviões de combate nas Lajes, “se vamos dar mais facilidades, devemos exigir mais contrapartidas”. Nessa mesma altura, e depois de uma reunião com os trabalhadores da Base, revelou que “a exigência de mais contrapartidas deve ser colocada mesmo que seja necessário fazer uma revisão do Acordo”. Mais nada, preto no branco. Ao lado dos trabalhadores, contra a República se fosse caso disso, frente-a-frente com os Americanos! III. Com o assumir de funções governativas na República a posição da atual Secretária de Estado relativamente às relações bilaterais Portugal/Estados Unidos passou por dois períodos claramente demarcados. Em 2013, quando já se sabia da intenção norte-americana de reduzir substancialmente a sua presença militar nas Lajes, era assim: “Até ao fim há esperança. Se as nossas esperanças forem inviabilizadas, já está em marcha um conjunto de iniciativas de mitigação dos impactos negativos da redução militar que o Governo dos EUA pretende promover na Base das Lajes”. Depois de um período de acalmia, a Senhora Secretária de Estado mudou de rumo e passou a conformista com tiques de firmeza. No sábado disse o que disse aos jovens social-democratas. Na segunda-feira seguinte, retocou a pintura, acrescentando que o Governo da República tem abordado a matéria com “firmeza e determinação”. IV. Berta Cabral tem sido uma Secretária de Estado natural dos Açores, não uma açoriana a ocupar o lugar de Secretária de Estado. Não resolveu a falta de meios humanos para assegurar as evacuações médicas das ilhas sem hospital; apresentou com pompa um novo patrulhão para a ZEE dos Açores que só vai ficar na Região até ao fim do mês em curso; e tem sido mais lesta em proteger a ineficácia do Governo da República do que em defender os interesses dos Açores na questão da Base das Lajes. “Alguém me acha parecida com Passos Coelho?”, perguntava retoricamente quando temia perder votos por causa do Governo da República. Agora que faz parte desse mesmo Governo da República, não está parecida, está igual.