Opinião

César, pelos Açores

I.Esta seria a semana para falar das listas que assombram o Governo da República, a dos vip’s fiscais e a dos pedófilos reincidentes – falar mal, claro está, porque num Estado de direito democrático não deve haver nem contribuintes especiais nem criminosos com pena eterna, por mais hediondos que sejam os crimes. Seria… não fora o facto, superveniente e de extrema relevância, de o PS Açores ter convidado Carlos César para cabeça-de-lista pelo círculo eleitoral dos Açores às Legislativas de outubro próximo. Tal facto muda tudo porque é da representação política e institucional dos Açores e porque é de Carlos César que se vai passar a falar. Convém que o leitor saiba, desde logo, que eu fiz parte do grupo de dirigentes regionais do PS que endereçou o convite a Carlos César. Convém também que eu diga que o meu percurso político está intimamente ligado ao de Carlos César e que tenho a honra de ser seu amigo e camarada de muitas batalhas em prol da Região que servimos. Vou tentar, porém, que esses condicionalismos não sejam importantes para aquilo que pretendo partilhar consigo, caro leitor. II. Em qualquer circunstância seria de enorme relevância para os Açores poderem contar com a capacidade e a experiência políticas de quem geriu com sucesso os destinos da Região durante 16 anos. Mas, num quadro em que a deriva “austeritária” da Coligação no Governo da República insiste em tornar a Autonomia num capricho de ricos, fazendo depender o seu maior ou menor grau da maior ou menor disponibilidade dos cofres do Estado, a possibilidade dos Açorianos escolherem um dos seus melhores, com provas dadas na defesa dos interesses regionais, junto de que instância for, sempre com empenho, responsabilidade e sucesso, é um bem inestimável de que a Região não poderá prescindir. Ao capital de experiência e ao currículo político, César junta ainda as vantagens que o presente contexto lhe confere. É Presidente do partido melhor colocado nas sondagens, é membro influente da equipa responsável por aquele que, ao que tudo indica, será o próximo Governo de Portugal e tudo isso sem deixar de ser uma voz dos Açores nos centros de decisão do país. III. Enquanto o PS Açores procura assegurar a candidatura dos seus melhores, a liderança do PSD regional vai deixando que alguns dos seus mais emblemáticos potenciais candidatos se digladiem publicamente, ou por excessiva presença ou por ressentido recato, num processo mal gerido, de indefinição e de incómodos. Em qualquer cenário eleitoral expectável, a guerrilha entre candidatos social-democratas é má para os Açores. Quem quer que venha a ser eleito na lista do PSD pela Região ficará sempre associado a um processo de escolha arrastado, condicionado por Lisboa e com pouca atenção aos desafios que se colocam à Região. IV. E o caderno de encargos dos futuros representantes da Região na Assembleia da República é bastante exigente. Tradicionalmente, a Autonomia não se dá bem com as crises financeiras de nível nacional. Postos perante a necessidade de gerir de forma diferente, há uma certa tendência para que os governantes do país se lembrem dos seus preconceitos para com o poder autonómico e os transformem em evidências políticas. Caberá aos futuros deputados pelos Açores lutar para que o próximo Governo da República se recorde do seu dever de solidariedade para com a Região nos termos da Constituição e da Lei, para que perceba que a soberania do Estado não se garante sem investimento, e que a partilha de responsabilidades abrange sempre encargos e benefícios. Carlos César sempre fez essa pedagogia, sem deixar de ser firme com quem teimou em não a compreender. Oxalá, do lado do PSD não tenhamos de nos contentar com quem renegou e depois se deslumbrou com Passos Coelho e o seu centralismo de cofres cheios!