Não há melhor exemplo da forma errada como a direita governa a União Europeia do que o fim das quotas leiteiras, efetivado na passada semana.
Foi uma decisão ideológica e satisfatória para alguns interesses nacionais, amplamente disfarçada e validada pela tecnocracia de Bruxelas, os tais diretores-gerais – que tão bem conhecemos em Portugal, na Troika - que aparentemente mandam mais do que os políticos frouxos que os nomeiam – tal como na série “Yes Minister!”.
Só que, na verdade, esses políticos sabiam o que estava a ser preparado e permitiram e incentivaram - mais uma vez! – que uma decisão ideológica – a liberalização do mercado – fosse apresentada, como uma inevitabilidade aos agricultores, sob a ideia que era uma medida técnica indispensável para fazer face à procura gerada pelos novos mercados emergentes na China, Rússia e África.
Numa reunião da Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu, em Bruxelas, assisti a diversos especialistas explicarem que o fim das quotas seria o fim da pequena agricultura familiar na União Europeia, em benefício das grandes explorações e conglomerados agrícolas.
Também assisti, algo incrédulo, a uma discussão e a uma argumentação sustentada numa intervenção de um subdiretor-geral da Comissão Europeia, sobre as vantagens do mercado livre na capacidade exportadora da UE e sobre os seus “pequenos danos colaterais” - o fim das tais explorações familiares, ineficientes, que tiram o seu sustento desta atividade.
Mas tal como a Troica nos apresentou uma solução dita “inevitável”, pois não havia outro caminho que não fosse a austeridade para corrigir os nossos males, a Comissão Europeia considera não haver outra solução para o setor do leite na UE.
Só que os pressupostos dos técnicos europeus esfumaram-se! Já não há Rússia para exportar, a China já começa a produzir leite próprio e faltam petrodólares em África e no Médio-Oriente para as importações.
Enquanto isso tudo acontece, o “mercado livre” preconizado pelos “PSD´s” da União Europeia irá afogar-se em leite e “transbordar” na descida do preço pago aos produtores.
Mandam-nos apostar na qualidade e na diferenciação - como se já não estivéssemos a trabalhar nesta área - se for preciso com alguns pequenos subsídios de Bruxelas. Mas quando falamos em regular com legislação comunitária, a relação da grande distribuição, com a indústria e produção, por forma a proteger toda a cadeia de valor, assobiam para o ar e, falam na proteção do consumidor e da necessidade dos preços estarem baixos.
Sabemos todos como este “filme” acaba!
Com as grandes cadeias de hipermercados a aumentarem os seus lucros, com grandes fusões, aquisições e falências nas indústrias de laticínios, com menor qualidade nos produtos do leite e com o fim das pequenas explorações agrícolas, tudo isto após milhões de euros de subsídios gastos dos bolsos dos contribuintes.
Tudo isto graças às maravilhas do “mercado livre”.
P.S. - A abertura controlada do espaço aéreo nos Açores está a correr bem. Com apenas dois percalços: a fuga da TAP do Pico e do Faial a que a SATA teve de acudir; e o atraso incompetente da República nos reembolsos aos passageiros residentes.
Lamento a atitude patética do PSD de cá, de se colar a Sérgio Monteiro - tão literalmente que o homem chegou a tropeçar em Duarte Freitas – e de inventar desculpas esfarrapadas para esconder as suas falhas.