Opinião

In memoriam

Nos primeiros anos do século XXI poucos acreditavam ou conheciam o termo cluster e muito menos o de cluster espacial em Santa Maria. Uma conversa que tivemos com o Prof. Mariano Gago que, prudentemente, estava em dúvida na instalação de uma estação fixa da ESA naquela nossa ilha, cedo se desvaneceu porquanto o Governo dos Açores se responsabilizou, de imediato, pela construção do segmento terrestre da infraestrutura e executou a edificação em tempo record. A influência e amizade do Prof. Mariano Gago junto da ESA e do seu diretor, Jacques Dordain, fez-se então sentir com a motivação, resiliência e trabalho feito pelo Governo dos Açores. A estação passaria a ser fixa e Santa Maria e os Açores inscreveram o seu nome no mapa espacial mundial como se pode verificar no site da ESA. A partir daí, muitos outros projetos no domínio da tecnologia espacial federaram-se em Santa Maria e nos Açores. O contexto em que se desenvolveram estes projetos espaciais em Santa Maria influenciaram decisivamente a motivação e o gosto dos alunos do ensino secundário desta ilha, ao ponto de em 2012 e 2013 terem ficado em 3º e 1º lugar num concurso europeu de tecnologia espacial, promovido pela ESA e ligado à educação - o CanSat. Neste projeto educativo, 4 alunos coordenados por um professor constroem um mini-satélite do tamanho de uma lata de refrigerante; lançam-no até uma altitude 1000 m e na descida controlada o mini-satélite fornece e transmite, por telemetria, dados meteorológicos para uma estação terrestre. Numa segunda fase, cada equipa cria novas situações inovadoras, por exemplo, de Telemetria Avançada, Controlo Remoto, Aterragem de Precisão, Sistema de Aterragem, Sonda Planetária… Este ano ao CanSat Açores concorreram 16 escolas de quase todas as ilhas, tendo ficado apuradas três para o concurso nacional (Escola Secundária Antero de Quental, Escola de Novas Tecnologias dos Açores e Escola Básica e Secundária de Santa Maria) que se realiza no mês de maio em Torres Vedras. Resta saber se isso constitui uma experiência vicária ou de imitação do modelo iniciado pela Escola da ilha de Santa Maria. De qualquer modo, a educação científica através da abordagem por resolução de problemas tem a sua expressão num projeto que “saltou” do contexto para a escola. Recordando o Prof. Mariano Gago, a melhor homenagem que todos lhe fariam seria inscrever nos processos educativos uma das suas frases “sem verdadeira experimentação, não há ciência nem educação científica”.