Começa hoje a greve de dez dias convocada pelos pilotos da TAP. Uma decisão que prejudica todos. Os passageiros, a empresa, e os próprios trabalhadores. Esta é a parte estranha. A não ser que a ideia seja mesmo esta. Em vésperas da sua privatização, colocar a empresa em apuros e, por arrasto, todos aqueles que nela trabalham. Para afugentar a caça dos potenciais investidores interessados. Há jogadas assim. Mas o tiro pode, por vezes, sair pela culatra. E acertar no pé.
Esta greve não é justa. Porque os pilotos não tem razão e porque ela acelera a descapitalização da empresa no momento em que acontece. Dir-me-ão que a ideia dos grevistas é mesmo esta. Mas onde fica a solidariedade com os restantes trabalhadores que não são pilotos? Mesmo antes de começar os efeitos já se faziam sentir. Nos prejuízos do turismo sobretudo. Porém, as estimativas do impacto da greve diferem. O sindicato fala em 30 milhões de euros de prejuízo ao que o presidente da companhia contrapõe com 70 milhões, e o governo com 28 milhões por dia. O que é certo é que vai afetar mais de 350 mil passageiros de 3000 mil voos que estavam programados. E depois? O secretário de estado já assumiu a necessidade de despedimentos, que pode chegar aos 40%, e duma reestruturação da empresa. A concretizar-se será mais uma machadada violenta numa empresa essencial ao país. Há quem acredite que não restará outra possibilidade ao Estado que não a de segurar a empresa. E provavelmente tem razão. O direito à greve não é discutível, mas feito desta forma é, pelo menos, questionável. Não acham os senhores do sindicato estranho que o coro de protestos que atravessa filiações partidárias, e a sociedade civil em geral, inclua centenas de trabalhadores da própria empresa que comungam o entendimento do impacto negativo desta decisão? Ou serão como a mãe babada que, na parada, exulta por o seu filho ser o único que leva o passo certo?