Em 1928, o grande escritor Fernando Pessoa criou um slogan para o lançamento da Coca-Cola em Portugal que ainda hoje é célebre e estudado nos cursos de marketing: “Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se”. O sucesso de Pessoa assentou numa fórmula literária elegante que continha uma grande autenticidade, pois descrevia rigorosamente a experiência gustativa dos provadores do refrigerante. A publicidade correspondia ao produto. Inspiração e criatividade foi, manifestamente, o que faltou às luminárias do PSD que produziram o slogan que está estampado nos outdoors que o partido plantou na Região. 100% Açores tem muito que se lhe diga. Vejamos duas incoerências evidentes, ambas do domínio público. A escolha de Berta Cabral como cabeça de lista do PSD-Açores às próximas eleições legislativas atestou a rendição de Duarte Freitas, e da sua direção, à vontade de Passos Coelho e do PSD-Nacional. O dossiê foi de tal maneira mal gerido, a negação da vontade das bases do PSD-A criou uma tal polémica, que gerou uma impugnação que poderá chegar até ao Tribunal Constitucional. Só se gasta tanto dinheiro a proclamar 100% Açores quando se tem 0% de influência em Lisboa. A segunda incoerência é de natureza geográfica e é verdadeiramente inacreditável. Na lista de 10 candidatos que o PSD apresentará a sufrágio constam apenas representantes de 7 ilhas da Região. 100% Açores? Para o PSD, as ilhas do Corvo e das Flores representam 0% Açores. O PSD ainda não aprendeu que não é possível ludibriar as pessoas. Isso acontecia nos velhos tempos dos Governos do PSD, de que fazia parte a candidata Berta Cabral. Nos Açores do Século XXI não é possível iludir os eleitores. Não basta apenas apregoar a defesa da Região. Nestes domínios, as pessoas deduzem pela sua própria cabeça com base na perceção que adquirem pela observação dos líderes políticos. O 100% Açores é a expressão pública de um profundo complexo de culpa de quem se vergou 100% à vontade de Passos Coelho e do PSD de Lisboa. O PSD-Açores está a promover publicidade enganosa.