Opinião

Sem surpresa

Apesar dos apelos, era evidente a improbabilidade da segunda volta. Era claro que Marcelo arrasaria com o charme previsível de quem se tornou íntimo dos portugueses. Não foi eleito com os votos da direita portuguesa, mas com os do centro e alguns da esquerda também. Diz-se que não teve adversário à altura. Costa também preferia Marcelo, daí o precoce resguardo desta contenda. Marcelo permitir-lhe-á moderar a esquerda de que está refém. E amor com amor se paga. Da campanha de Marcelo o que se destaca é a bonomia com que tratou o governo de Costa. O mesmo que tirou o sono a Cavaco. Não se pode dizer que ganhou a direita. Ganhou Marcelo apenas. O comentador afetivo que tocou as pessoas, não os militantes nem os eleitores. Ele foi o seu único obreiro. E, desta vez, as circunstâncias fizeram o resto. Sem Guterres nem Vitorino, Costa resguardou-se. Da aposta efusiva no quase desconhecido Sampaio da Nóvoa. Do rescaldo fica a frase cavernosa de Jerónimo sobre as candidatas “engraçadinhas” que esfrangalhou ainda mais o seu miserável resultado eleitoral. Não sei se Edgar Silva apreciou o elogio. O resultado de Maria de Belém diz menos sobre ela do que sobre aquilo em que estão transformados os partidos. Cavaco Silva deu um último ar da sua graça com o veto sobre os diplomas da adoção por casais homossexuais e a interrupção voluntária da gravidez. Tem legitimidade para o fazer. A dúvida é de onde vem a súbita pró-atividade? A abstenção soma e segue. Os Açorianos preferiram-na a Marcelo, embora gostem ainda mais dele do que o resto do país. A televisão é um veículo poderoso de esclarecimento. Seria injusto dizer que fez dum comentador um Presidente da República. Marcelo é muito mais do que isso. O meu medo é esse. E o de Passos Coelho também. Que o chamou cata-vento. E levou agora com o vento encanado. Marcelo será muito mais um aliado de Costa do que de Passos. E todos o sabem.