A comunicação social, sob uma forma ou outra, existe com o intuito de informar. Com o desenvolvimento crescente de novas plataformas de comunicação, a informação disponível é tão numerosa que dilui, a um certo ponto, a diferença entre as notícias que merecem reporte e aquelas que, muitas vezes, nem notícia são. Chegamos a um ponto onde tudo, mas tudo mesmo, é “noticiável”.
A proliferação de informação tem um lado agridoce - é difícil encontrar-se algum tema que não seja passível de ser explorado ao máximo, com todas as implicações que isso traz. Mas, por vezes, é bom que assim seja. Tomemos como exemplo o êxodo humano que temos presenciado nos últimos meses, na Europa. Raro é o dia em que não é noticiada alguma faceta do drama dos refugiados. Raro é o dia em que não existem notícias relacionadas com o autointitulado Estado Islâmico. Num único dia, por exemplo, ficámos a saber que redes mafiosas andam a explorar crianças refugiadas que chegam à Europa e que, dessas, 10.000 já desapareceram. Ficámos igualmente a saber que a líder do partido Alternativa para a Alemanha disse que a polícia devia ter autoridade para disparar sobre migrantes “para evitar travessias ilegais na fronteira”.Pelo labor exaustivo dos órgãos de comunicação social ficámos a conhecer realidades com as quais, sem aquele, dificilmente tomaríamos contacto. Ficamos a conhecer, no fundo, aquilo e com quem lidamos, o bom, o mau e o muito mau.
Sem o muito do jornalismo sério que se faz, poderíamos estar limitados a acreditar em toda uma contrainformação que também circula nos circuitos noticiosos e que pretende unicamente espalhar mensagens de ódio e semear a discórdia. Felizmente não somos obrigados a sorver, sem possibilidade de verificação, muitas das histórias que percorrem as redes sociais (que, quer queiramos quer não, são igualmente veículos informativos) sobre episódios relacionados com a atuação de refugiados nos países que os acolhem. No entanto, é de louvar o trabalho sério que muitos jornalistas desenvolvem, de confirmação ou refutação das situações que são reportadas.
Os órgãos de comunicação social têm tido um papel preponderante no despertar de consciências e no esclarecimento dos seus interlocutores. É um trabalho essencial, no qual se impõe uma postura íntegra e neutra. São muitas as vidas de crianças que dependem, em grande parte, da imagem que quem as recebe delas tem, a qual é claramente moldada pela informação que é veiculada pelos órgãos noticiosos que detêm, assim, uma grande responsabilidade em mãos.
Mais ainda, têm também o dever de transmitir serenidade na comunicação de factos. A repetição exaustiva de notícias de teor alarmista, como a que, por exemplo, reportava que o Estado Islâmico tinha Portugal na mira, serve apenas os propósitos do próprio Estado Islâmico, lançando pânico e medo, e criando aversão a uma solidariedade face a quem precisa que é mais que essencial neste momento da História. Algum jornalismo sensacionalista e mal-intencionado que vemos em alguns canais televisivos, dedica-se, de forma quase permanente, a desinformar e a estupidificar o público. E numa época em que o esclarecimento é fulcral, este anti-serviço público deve ser chamado à razão.
Sobre qualquer objeto, mas em especial sobre os de extrema sensibilidade, como este das migrações e dos conflitos que a elas deram origem, a retidão não é opcional. Não menos se deve exigir aos órgãos de comunicação social, veículos de ideias e enformadores de opiniões que são. Cabe ao público julgar, separando o bom trigo do péssimo joio que por aí grassa.