Opinião

Ecos de um Discurso

O Dia da Região, celebrado na semana passada na Cidade da Horta, ficou marcado pelos discursos do Presidente do Governo Regional e do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa proferiu um verdadeiro discurso de consagração das Autonomias Regionais. Foi notória a sua preocupação em deixar claro que não existe incompatibilidade entre o princípio da Unidade do Estado e o das Autonomias Regionais. Marcelo procurou apagar por completo qualquer vestígio de conflitualidade entre a República e a Região, em torno do sempre sensível aprofundamento da Autonomia. Marcelo foi mesmo ao ponto de referir que as Autonomias são um exemplo para o País e para a Europa. O PR fez um discurso muito cuidadoso a culminar uma deslocação de seis dias à Região. A visita de Marcelo, sendo positiva, deixou registos que a serem protagonizados por outra personalidade teriam dado motivos para várias polémicas. Mas a imprensa e Marcelo vivem em lua-de-mel e por isso a ele são perdoados todos os excessos populistas. Porém, o momento mais marcante da Sessão Solene foi protagonizado por Vasco Cordeiro. O Presidente do Governo proferiu um excelente discurso de afirmação da Autonomia dos Açores. Há varias passagens do seu discurso que merecem destaque mas há uma em particular, em que aborda os interesses setoriais, que está a provocar maior eco e várias reações. Cordeiro referiu que “interessa também ter presente, que, por muito legítimos que sejam os interesses setoriais e as suas diversas formas de representação, eles não deixam de ser isso mesmo, setoriais, e o mérito da sua intervenção não pode derivar, automaticamente, do simples fato de serem externos à política ou, melhor dito, externos aos partidos políticos”. O Presidente do Governo tem toda a razão. A concertação social deve ser realizada considerando todos os interesses legítimos. Todavia, em qualquer democracia cabe ao poder político ter a última palavra na definição do interesse geral, um desígnio que por definição se deve sobrepor a todos os interesses setoriais. É necessário relembrar a alguns que o poder político é o único legitimado por toda a população com mais de dezoito anos que decide livremente votar.