Opinião

“Lucro ético”

Após ler a notícia no Correio dos Açores intitulada “Turistas deixam como sugestão que os restaurantes dos Açores devem melhorar a comida que confeccionam” e os dados publicados pelo Serviço de Estatística dos Açores (SREA) relativos ao turismo - Indicador Avançado de Turismo, Açores - veio-me à memória uma frase, ouvida há semanas, por uma empresária na área do turismo rural e intervenção paisagística: “ valorizar o lucro ético”. Desde então não voltei a refletir sobre esta frase. A reboque da notícia do Correio dos Açores e dos dados da SREA publicados no dia 12 de junho, referem que em abril de 2017 o número de dormidas será de 157 mil visitantes. Um aumento de 31% em termos homólogos. Eis que o “lucro ético e a loja da honestidade” – esta última ficará para outra oportunidade, voltaram. Recentrando, não haja dúvidas que o crescimento económico é fruto do investimento privado, do esforço dos empresários e dos seus trabalhadores. E nos Açores o número de empresas criadas e os resultados das já existentes têm sido de registar. De forma sucinta a notícia do Correio dos Açores, assinada pelo jornalista João paz, a partir dos dados do Observatório de Turismo, baseado num inquérito feito em 2016, é de que a opinião dos turistas, em maior número é a necessidade de “melhorar a qualidade comida” a que junto o atendimento. A generalização não me agrada. Mas na esmagadora maioria dos locais a atenção e a cortesia no atendimento estão a um nível lastimoso. Certamente muito à conta de um maior número de turistas. Do cansaço dos trabalhadores. Podendo concordar com as justificações naturais de um destino que de um dia para o outro se viu abraços com um aumento da população flutuante. Já passaram dois anos e o futuro manterá os Açores como destino preferencial, pela sua excelência ambiental, segurança e diversidade, porém assiste-se e é notório que os restaurantes mantêm os mesmos funcionários no atendimento e na cozinha em turnos seguidos. Como é que estes dados e situações se ligam com a frase que durante semanas esteve em mim adormecida? A tal do “lucro ético”? Não é humanamente possível com o mesmo número de funcionários no atendimento, o mesmo número de funcionários na cozinha, turnos sobrecarregados, manter a marca da cortesia humana que marca os Açorianos. Sou sensível às dificuldades do passado na restauração e na hotelaria. Mas olhando para os últimos dois anos é tempo de mudar. Mudar mentalidades. Se a qualidade da “confecção da comida”, que depende exclusivamente dos privados, é por excelência um meio de exportação dos produtos dos Açores, então façamo-lo bem. Porque não começar pelo “lucro ético.