O programa de intercâmbios Erasmus celebrou esta semana 30 anos. Foram três décadas de grande sucesso, pela sua enorme abrangência, cerca de nove milhões de jovens dos quais mais de 220 mil portugueses, mas também pelo contributo para a construção da cidadania europeia.
A Comissão Europeia estudou os efeitos do programa e chegou a interessantes conclusões acerca da transformação que o programa Erasmus proporcionou. 83% dos participantes afirmaram sentir-se mais europeus depois da experiência e 81% dos estudantes do ensino superior que participaram em intercâmbios votaram nas eleições europeias. Outro dado, é o contributo do programa para a constituição de famílias transeuropeias. Nasceram mais de um milhão de crianças em resultado de relações que se iniciaram quando os pais frequentavam o programa Erasmus. Tudo isso contribui para que os eleitores jovens estejam entre os principais defensores do projeto europeu. Foi assim, infelizmente sem sucesso, quando o Reino Unido referendou a sua continuidade na União Europeia e foram também os jovens, desta vez os franceses, que em larga medida fizeram a diferença, afastando os candidatos anti-europeus, primeiro da corrida à presidência e, mais recentemente, da Assembleia Nacional Francesa, trazendo uma nova esperança ao projecto Europa.
Estes acontecimentos têm provocado um movimento que ajudado, diga-se, pelo sucesso económico e financeiro da via alternativa à austeridade que o governo português encetou tem conduzido a alterações na posição das instituições europeias. Exemplo disso, é o Documento de Reflexão sobre o desenvolvimento da União Económica e Monetária apresentado esta semana pela Comissão Europeia no Parlamento Europeu. Um documento que trilha novos caminhos, mais moderados, ancorados em princípios que estão para além da estabilidade orçamental e que parece trazer a solidariedade de volta ao espaço económico e monetário.
Recebemos, por isso, com satisfação aquela proposta da Comissão que parece abordar de uma vez por todas os problemas reais da zona euro mudando a narrativa acerca das origens da crise. Ficou assente que os problemas não se limitam à estabilidade financeira, mas também a questões relacionadas com o crescimento, investimento, criação de emprego e convergência económica e social. A Europa só terá futuro se a zona euro for capaz de se tornar uma área de prosperidade e convergência e se houver responsabilização política perante o Parlamento, a única instituição europeia cujos membros são eleitos diretamente pelos cidadãos. Daí ter algum interesse a ideia avançada pela Comissão Europeia de o presidente do Eurogrupo ser um vice-presidente da própria comissão.
Uma Europa com futuro é o desejo das novas gerações. Compreender o sentimento popular europeu não é, por conseguinte, dar guarida a sentimentos xenófobos e a políticas divisionistas e isolacionistas. Os resultados de Macron e de Corbyn, mesmo que mais não digam, afirmam com clareza que há outro caminho, que os cidadãos desejam a Europa. Porventura, uma Europa audaz, capaz de responder com políticas progressistas aos desafios deste tempo. Esperemos que estes sinais signifiquem que estamos de volta aos avanços, mesmo que em pequenos passos. •
Ricardo Serrão Santos