De um modo positivista, desiguais, somos todos nós.
Mas, como se sabe; há uns mais desiguais do que outros; e por isso a desigualdade como a pobreza, tem facetas, apresentações, que forçosamente nos impelem à sua interpretação e estudo, mesmo com a inevitabilidade de uma e outra permanecerem sempre entre os humanos, com mais ou menos expressão e globalização.
A desigualdade económica, pensa-se ser o princípio de todas as desigualdades, embora em absoluto, assim não seja (neste contexto, deixarei obviamente de fora a do género). De qualquer modo quer se comece pelo princípio ou pelo fim, a economia, o gerar da riqueza e sua distribuição, inferem decisivamente sobre os mais desiguais.
Se a distribuição da riqueza gerada condiciona a desigualdade de acesso aos bens de consumo; a desigualdade no acesso à educação e à saúde, como condicionantes conhecidas do acesso a esta distribuição da riqueza, tem merecido por parte dos Governos intervenção sistematizada, numa primeira linha de combate à exclusão e maior desigualdade.
O investimento na educação e na saúde são, por isso, a par da preocupação do desenvolvimento económico, prioridades, alocando-se recursos financeiros que são comparados internacionalmente com o objetivo de se estudar o seu impacto no sucesso das políticas implementadas.
Por isso a monitorização dos gastos nestas duas áreas em concreto (outros estudos também são possíveis noutras áreas de investimento público), leva-nos a conclusões por vezes interrogativas sobre o funcionamento dos sistemas.
Alocarmos 8,1% do nosso PIB para a saúde; é muito ou é pouco quando a média na U.E. em 2016 foi de 7,1%? Alocarmos 7,4% do nosso PIB para a educação; é muito ou é pouco quando a média na U.E. foi de 4,7%?
Se é muito, é porque existe um esforço adicional efetivo para atingirmos melhor cobertura e melhores resultados no combate às desigualdades. Se ainda é pouco, será que seria possível fazer o mesmo com menos dinheiro, como o fazem outros?
Bem. Os que o fazem muito melhor, não o fazem por menos, mas também há quem o tenha que fazer com menos.
Já por várias vezes foquei a importância das reformas, baseadas em evidências, assim como a dinâmica intrínseca destes sistemas que requerem avaliação contínua e esforço conjunto da sociedade e partidos incluídos para encontro de soluções mais adequadas.
Precisamos de mais médicos e de mais professores onde e quando; e de melhores condições de trabalho e melhor distribuição de tarefas? Precisamos de mais enfermeiros ou outros técnicos, ou também mais envolvimento da sociedade, através de núcleos familiares mais capacitados para a tarefa do cuidar e do ensino? Precisamos de mais camas nos Hospitais ou Centros de Saúde ou de melhor alocação de recursos técnicos e de instalações? Precisamos de mais camas de cuidados continuados de longa duração e de Lares; ou de uma melhor rede assistencial domiciliária e de reabilitação com base comunitária?
Certamente, há um tempo em que precisamos disso tudo; e haverá um tempo em que deveremos questionar isto tudo.
Por isso, quem deveremos responsabilizar por esta missão? Só uns, ou todos?
Neste glossário das desigualdades, somos ou não iguais neste desiderato? Ou haverá uns que se posicionam sempre oportunisticamente mais desiguais?