Opinião

Negociação não é rendição

Em março deste ano foi anunciado por uma empresa privada a operação de um cargueiro na ilha de São Miguel. Não é para todo o arquipélago, embora com expectativa de se estender à Terceira. Não hajam dúvidas que a iniciativa privada é bem vinda. É sabido que em junho esse consórcio contactou a SATA (handling) para a contratualização de serviços e há dias foi público que, infelizmente, a operação do cargueiro não se concretizou por “constrangimentos operacionais e económicos” - o handling da SATA não consegue garantir o serviço, ao que é sabido por este existirem compromissos com outras companhias, nas horas e datas desejadas pelo consórcio. Negociação não é rendição. Entre linhas não escritas parece que o consórcio desejava que o handling da SATA , empresa pública, cedesse às condições de uma empresa privada, mesmo que essa decisão originasse constrangimentos e indemnizações perante os acordos já assumidos pela SATA ou com custos extraordinários com os recursos humanos. O que diriam e escreveriam se a SATA procedesse dessa forma? Ou é entendimento que simplesmente por ser uma empresa pública deve onerar os cidadãos para satisfazer uma empresa privada ? Estaria o cargueiro num dia e voo qualquer disponível para substituir os contratos firmados há meses com os seus clientes para satisfazer outro cliente que o contactasse há um mês? Duvido. A memória é curta, mas parece-se exigir hoje que a SATA proceda no que em tempos se criticou, ou seja, utilizar a SATA, ou os seus serviços, para a economia regional, a todo o custo. O transporte de carga área na região é essencial. Não haja dúvida. Se um privado responder mesmo que seja apenas para a ilha que garanta lucro, este deve ser bem recebido. Mas há regras e , mesmo numa empresa pública, compromissos a cumprir. Negociação não é rendição. A operação do cargueiro está adiada por 30 dias. A SATA tem interesse em prestar mais um serviço, mas com respeito pela negociação com o consórcio e com as já existentes prestações de serviços. O consórcio privado não resolverá o transporte de carga nos Açores. Existem mais 8 ilhas. Desta forma o concurso público é essencial para que haja equidade no acesso a esse serviço às diferentes ilhas garantindo a possibilidade de desenvolvimento do mercado de cada ilha.