Muitas vezes ouvimos falar no sistema. Quase sempre a avaliação e até a adjetivação não são as melhores. Fala-se nele de uma forma que se vai do abstrato ao concreto na mesma frase sem perceber que o fim da frase, não raras vezes, contraria o seu início.
Estas críticas ao sistema têm história, não são de hoje nem são uma realidade só do nosso País ou da nossa Região. São uma realidade que tem vindo a emergir em muitos países do mundo. É a maior arma que o populismo tem contra a política: utiliza o discurso fácil, utiliza a descrença, desvaloriza todas as organizações e instituições políticas e democráticas, é capaz até de desvalorizar pessoas, raças e etnias. E repare no cúmulo deste populismo: são capazes de desvalorizar funções políticas que eles próprios pretendem exercer.
Esse, no meu entender, é dos maiores ataques que a democracia já viveu e o tempo é dos democratas, os verdadeiros, com todas as suas diferenças, se unirem e lutarem. “Se não os consegues vencer, junta-te a eles” não pode, nem deve ser o mote.
Então, o que é esse sistema que tanto se fala? Esse sistema é o nosso sistema democrático, é o nosso modelo organizativo enquanto País, enquanto Região, enquanto Concelho e até enquanto Freguesia. É o sistema que separa a parte executiva da parte deliberativa, é o sistema que separa a parte política da parte judicial. É o sistema que prevê que nenhum cidadão é mais ou menos do que o outro. É o sistema que permite que eu e o caro ouvinte possamos decidir quem nos representa. E muito mais poderia dizer, mas esse é que é o sistema que o populismo critica.
Quando se diz que se é contra o sistema está-se, no fundo, a atacar os pilares da democracia. Quando se quer dizer que se é contra o sistema, pelos exemplos utilizados, o objetivo é querer dizer que se é contra os prevaricadores do sistema e isso é uma coisa completamente diferente. No fundo, na maior parte das vezes ser contra o sistema é estar a favor dele, é querer que ele funcione bem.
Repare que tudo o que vai para além destes moldes não é sistema, é esquema! E uma coisa é certa, os sistemas democráticos como o nosso têm formas de controlar esses esquemas e já provaram várias vezes essa capacidade, contrariamente ao que acontecia antes de abril de 74.