Nos Açores esta é uma tradição que, possivelmente, adveio do ciclo da laranja em meados do século XVIII e XIX, que tanto caracterizou a economia e o desenvolvimento dos Açores.

Este ano, do Natal aos Reis tudo será diferente. Diz-se que será diferente para que volte a ser igual. Temo que mais nenhum Natal nos próximos tempos será igual aos seus antecessores. O de 2020 marca o ponto da viragem.

Os convívios, as reuniões familiares, o bater à porta, são sinais tão intensos da amizade e do amor e que são agora substituídos pela chamada telefónica ou videoconferência ou até pela ausência forçada.

O “menino mija” é uma tradição de séculos que hoje um vírus invisível restringe. Restringe muito mais que um momento de partilha. Restringe a nossa relação para com o outro, o de sair da nossa casa, do nosso conforto, para ir ter com o outro. Dar e receber com o outro e para o outro. E estes momentos e atos de afeição que se brindam com um licor selam amizades e reforçam tradições. Estes atos estão suspensos, mas o amor não se suspende, fortalece-se. Sendo uma suspensão que nos aflige, mas que se exige, neste Natal em que a “Estrela de Belém” vai iluminar o céu - é referido como um fenómeno astronómico raro.

Vivemos momentos raros e nestes tempos sejamos parcos com o egoísmo, a ganância e a maldade e fartos com a solidariedade, gratidão e a compreensão.

O “menino mija”, este ato suspenso, entre outros, exige-nos a força interior para que possamos sobreviver interiormente e viver exteriormente. Da economia à sociedade há muito que se está a desmoronar. Será a nossa capacidade de construir e reconstruir que manterá a tradição do “menino mija” e tantas outras. Que a tradição de amar e ser solidário com o outro sobreviva para além da “Estrela de Belém” e de outros vírus. No Natal onde o “menino não mija”, mas que o “haja saúde” seja forte e presente. E a saúde é o nosso maior símbolo de resiliência.

Saúde neste Santo Natal de 2020.