Quando nos referimos a um Síndrome reportamo-nos a um estado caracterizado por um aglomerado de sinais e sintomas clínicos, podendo ser tradução de mais de uma causa, não sendo propriamente uma doença, mas uma condição clínica.
E relativamente a Síndromes, o psicanalista italiano Saverio Tomasella escreveu um livro intitulado "A Síndrome de Calimero".
Quem não se lembra do Calimero?
O pintainho da série de animação televisiva italiano-japonesa, com uma metade de casca de ovo na cabeça, oriundo de um agregado familiar de galináceos amarelos, que passava grande parte da sua vida a lamentar-se, sentindo-se infeliz e injustiçado, dizendo que abusavam de si por ser pequenino.
Reportando-se aos dias de hoje, Tomasella refere que o Síndrome de Calimero é um fenómeno contemporâneo, em que a pessoa que dele sofre acaba por culpar os outros pelas suas falhas, que não só expressam as suas reclamações como parecem viver imersos nelas próprias, procurando estabelecer um clima de pessimismo, reclamando constantemente das situações más que ocorrem na sua vida. A pessoa acaba por assumir uma posição de vitimização, onde procura expor, por vezes de forma dramática, as suas emoções, gostando de apontar os erros de outrem, num enredo de situações de maneira a que o seu suposto sofrimento seja ouvido e considerado, numa clara chamada de atenção, com o intuito de manter uma relação de dependência com quem o rodeia.
Refere ainda Tomasella que esta atitude e comportamento "queixoso" acaba por esconder anteriores experiências traumáticas, sendo necessária ajuda para que essa pessoa consiga "retirar a casca de ovo da sua cabeça".
Para estes casos, maioria das vezes, é aconselhada a psicoterapia, pois trata-se de um sofrimento resultante de um evento angustiante ou de uma grande quantidade de stress que afeta a capacidade da pessoa enfrentar as suas emoções, que assim necessitam de ser resolvidas.
Algumas das mais recentes audições de membros do Governo acabam por evidenciar este Síndrome.
Através de um queixume constante, em que todos os males provêm do passado, numa atitude e comportamento exaurido com todo o trabalho que se tem pela frente, numa busca constante para se ser o centro das atenções e com uma inerente teatralização, assiste-se à tentativa de dominar os outros e a situação, sem qualquer direito à liberdade de expressão e pensamento crítico.
Mas estas atitudes e comportamentos fazem igualmente lembrar uma outra série televisiva, desta feita, de origem brasileira.
Quem não se lembra da série "Sai de Baixo"?
Uma série emblemática da Globo com diálogos icónicos entre os seus personagens, dos quais se destacam Caco Antibes e Magda.
Magda era considerada a "anta" da família, com uma troca de palavras de uma ignorância tal que provocava um natural revirar de olhos nos restantes elementos do agregado familiar cada vez que se pronunciava.
De tantas as ocasiões em que as barbaridades eram proferidas, Magda acabava, invariavelmente, por se vitimizar e expressar a sua frustração dizendo "Tudo eu! Tudo eu!". Por outro lado, quem a ouvia, saturado das suas barbaridades, acabava por utilizar uma das expressões que acabou por ficar sobejamente conhecida: "Cala a boca, Magda!".
Portanto, esta postura de alguns membros do atual Governo, sobretudo em audições, em nada é democraticamente humilde.
Não quero acreditar que sofram de Síndrome de Calimero nem sofram como a Magda.
Mas quero acreditar que mudem de atitude e de comportamento. Afinal, pese embora alguns defendam outros regimes, ainda vivemos em Democracia.