Sempre que pode, o Presidente do Governo, lá vai dizendo nos seus discursos que o governo a que preside é um governo reformista, assente na justificação singela e quase simpática, de que, o que está bem e bem feito - é para manter - e, quanto ao que está menos bem ou mal feito - é para mudar. O governo ainda não estava a “carburar” em pleno e já o Presidente dizia que ia ser um governo transformista, mas como o conceito tinha algumas aceções provenientes das teorias biológicas e conotações às práticas sociais do travestismo, e que podiam gerar confusão no que se queria mudar, a denominação caiu. Falamos de meros linguajares, nada de substancial em termos do que efetivamente se pretende como desígnio para a nossa Autonomia.
Da parte dos membros do governo provenientes do PSD, qualquer mudança, que querem implementar no domínio das suas Secretaria Regionais, e por mais pequenina que seja, lá vão dizendo que é preciso mudar o paradigma disto ou daquilo. Algumas das mudanças que se propõem fazer não passam de evoluções na continuidade do que estava a ser feito, ou mesmo triviais questões de estilo pessoal ou de acerto funcional resultantes das alterações orgânicas do governo. Enfim, coisas pequenas, nada de verdadeiramente importante no que respeita a rumos concretos da governação.
Já o CDS e o PPM, parceiros da coligação, optaram por não entrar nestas conceptualizações teoréticas e preferem reforçar as suas posições assentes num novo modelo de governança: uma espécie de distritalização serôdia. Ou seja, o CDS, a partir da Terceira, através da Vice-presidência, figura governativa recuperada dos governos do PS, que, diga-se, pouca apreciada pelos micaelenses, procura abarcar um vasto conjunto de áreas de competência, que vão desde assuntos sociais até questões do ambiente e relações externas associadas à Base das Lajes.
Para compensar a propensão voraz que o conhecido bairrismo de Artur Lima terá para enrobustecer esta figura governativa, Bolieiro ainda se vai arrepender de não a ter “ domesticado” com o contrapeso de outra Vice-presidência, desta vez sediada no Faial. Pois, foi o facto de cedo todos se aperceberem que o equilíbrio inicial que presidiu à arquitetura de poderes da Autonomia, que colocava na Terceira um Ministro da República, agora Representante, e na ilha do Faial a Assembleia Regional, não carreava para aquelas ilhas ou grupos de ilhas ganhos significativos no fatiado da distribuição orçamental da Região, que levou ao aparecimento de uma Vice-presidência na Terceira. Quando Bolieiro se aperceber do erro político cometido, já só lhe ressoará o pregão “por quem dobram os sinos”!
Por sua vez, o segundo parceiro da coligação, o PPM, a partir das Secretarias Regionais sediadas no Faial, começa a assumir descaradamente uma provedoria de todos os problemas associados ao ex. distrito da Horta, com particular atenção no que diz respeito ao que se passa nas ilhas de Flores e Corvo, que, já são um enclave reinol no meio da Autonomia, e que temo, as próximas eleições autárquicas tenderão a reforçar, tal a inabilidade política que paira para aqueles lados em termos de poder local. Verão que, com poucos votos, a coroa regional ainda cria um “império” no aquém-mar!
Ora, o Presidente, que, crescentemente, confina os seus poderes ao “ distrito” de Ponta Delgada, sabe bem melhor do que eu, e do que muitos daqueles que menosprezaram a sua figura e estilo de governação, ensaiados com sucesso no município de Ponta Delgada, que o governo a que preside, não é coisíssima nenhuma das atrás citadas, pois nenhum governo faz reformas ou transformas de estruturas socioeconómicas, culturais e mentais com coligações políticas alargadas, muito menos com tal número e colorido de parceiros, e ainda menos, numa Região de nove ilhas, onde a Autonomia não impediu que cada uma deixasse de considerar o centro do universo o seu próprio umbigo.
Em matéria de reformas, e no imediato, penso que o Presidente até já fez a sua maior reforma, que foi transformar o tamanho da mesa e o número de convivas paradigmáticos do governo da Região, onde a esta hora, cada um trincha para o seu distrito o maior naco da Proposta de Plano e Orçamento em apreciação. Tudo, como se não houvesse amanhãs!