Opinião

Entre o céu e a terra

Ok, a verdade... queres então mesmo a verdade, não é? Nua e crua, a verdade... Politiquices à parte, dizes tu. Pois bem, aguenta-te então! Falta o sonho, meu amigo, o sonho! É ainda o pior. Vazio de ambição. Antes um mar de utopia onde nos pudéssemos perder. Em que rúbrica escura se escondeu o fulgor? Aquele entusiasmo de quem olha a constelação de estrelas, de quem quase não dorme pelo dia seguinte? É que nem sei mesmo se alguma coisa teria a dizer daqui a dias, lá para os finais de abril, oposição política declarada, caso assim de repente e ao virar de uma folha, ali de caras esbarrasse com um milharzinho de milhões num projetinho do estilo "edificação do primeiro lanço de escadas de ligação da Serra de Santa Bárbara aos céus". Nada a dizer, afianço. É claro que ninguém mesmo se dispensaria de pensar que nos encontraríamos perante uma liderança sem a mínima noção dos limites entre o céu e a terra, mas estou absolutamente convencido, posso até garantir, esse arrojo silenciaria sem espinhas qualquer pensamento mais ruidoso. Bom, só vivenciando as situações em concreto, na prática, é que podemos confirmar o que teorizamos, anos e anos a fio, sobre qual eventualmente seria o nosso verdadeiro comportamento perante isto ou perante aquilo. Só assim, é verdade. Mas também outra coisa é igualmente verdade: estou suficientemente convicto de que levantar-me-ia a aplaudir sem qualquer espécie de prurido partidário. Acho mesmo que sim. Um enorme e estrondoso aplauso, afinal. Mas não, nada disso. A situação não se coloca e, portanto, da convicção, definitivamente, não daremos o tal salto para a tão famigerada confirmação. Nada disso lá está. Nem a macromaníaca obra a erguer-se da terra até aos céus, nem tão pouco uma outra qualquer coisinha, mais comezinha que fosse, mas que em si encerrasse um qualquer outro encanto e nos pusesse realmente a sonhar. De tudo, tudinho, de todo o Plano de Investimentos para a Região Autónoma dos Açores, é isso, exatamente isso, o sonho, aquilo que aqui nunca poderia faltar. Quando já nada no hoje se sonhar para amanhã, quando os olhos cerrados já não virem as estrelas, que me perdoem políticos, cientistas, poetas, mas definitivamente não serve. É refazer, meu amigo. Considera-o um esboço ou considera-o um treino. É como preferires. Faz lá como quiseres, mas, romantismos à parte, esse rumo não serve. E nós, se para ti estiver bem, naturalmente até podemos fazer-nos de distraídos, mãos nos bolsos e de trinado de meter inveja a qualquer canarinho da terra e até sem medo aos da Bélgica. Faz de conta que nem vimos, mais nada. Recolhes assim isso tudo e, independentemente do resto, recomeças tudo do sonho. Talvez até se te sentares um pouquinho, no muro, à noite, ou até mesmo se te encostares de costinhas na erva e te deixares viajar pelo cosmos adentro, entre uma estrela e a outra, ora pousando na Lua ora em Marte, um exemplo, e aí quem garante que essa alma não vem...? Experimenta!... E porque não?! Arrependimento não tens, aí eu prometo. E depois, e depois, quando regressares ao planeta, não abras o Plano. Não faças assim. Copias, sem querer, e assim não sai bem. Tranca-te antes no quarto, tudo bem calafetado, acende a luz do candeeiro, traça a rota ou o azimute desde do ponto onde aqui estamos até ao sonho que é bom chegarmos, e rascunha e depois rascunha, toda a força a rascunhar, e regra d'ouro p'ra quem vai alto, nunca, nunca olhar p'ra baixo. Cinco estrelas ou até mais. Muito mais que cinco estrelas. Uns Açores celestiais.