Opinião

A normalização da mediocridade

 

Escrevo estas linhas quando estão a iniciar as declarações finais de cada um dos partidos a propósito da discussão na Assembleia dos documentos de planeamento anual, plurianual e orçamento para 2021. Foram, até agora, 3 dias de debate sobre cada umas das áreas da ação governativa na tentativa de escrutinar, eu diria mesmo, encontrar a estratégia do Governo e as ações que a concretizam.
Encontrámos um Governo tolhido, retraído, revelando, na larga maioria das áreas, impreparação e ausência de visão de futuro para os Açores.
Evitando generalizações, importa referir que houve quem se distinguiu pela positiva e refiro-me à Secretária Regional da Educação, da qual já discordei várias vezes da narrativa e das opções. Reconheço que é uma mulher ajustada na postura e assertiva no debate.  Ficou prejudicada pelo tempo que o próprio Governo, por opção, dispensou a este debate não lhe permitindo justificar as suas opções, nem tão pouco os seus propósitos.
Na Saúde, o nervosismo do Secretário da Saúde incomoda o Presidente do Governo e o Vice-Presidente do Governo. Tantos são os sinais de ambos a solicitar que se silencie, que se cale, e neste caso não por falta de tempo, mas por falta de modo. Questionado quanto à inexistência de verbas no Plano destinadas aos Cuidados Continuados no programa da Saúde, e estamos a falar de 2,5 milhões de euros que simplesmente se esfumaram, exalta-se e remete para um artigo do orçamento e para uma suposta inclusão das dotações no dito documento por questões de legalidade e transparência. Ora, justificando assim incorre em dois erros. Primeiro, o dito artigo que invoca não assegura os 2/3 de despesas assumidas pela Saúde nesta matéria e, em segundo, porque, argumentando assim, acusa o Vice-Presidente de incorrer em falta de transparência e ilegalidade. Isto porque, o outro 1/3, da responsabilidade da Vice-Presidência, é assegurado em dotação inscrita, imagine-se, no plano para 2021.
Na Agricultura, o titular oscilou entre a teatralidade histriónica e a acusação vil e criminosa. Confrontado com as suas incoerências quanto ao Vitis e ao POSEI, reagiu nos moldes em que é useiro e vezeiro: na mentirinha com perna curta, desta vez ao seu pior estilo.
Nas Pescas e Mar, a marca do debate foi mesmo a total incapacidade de responder e dar a conhecer o entendimento do seu titular e, portanto, do Governo quanto a questões estratégicas como, por exemplo, o aumento das áreas marinhas protegidas, ou em justificar o desinvestimento de 20% na proteção da orla costeira, retratado nas dotações manifestamente insuficientes para executar as empreitadas previstas, designadamente, a ação relativa aos taludes da Vila Nova, na ilha Terceira com, pasme-se, 762 euros.
Sobre os Transportes e Turismo, chega mesmo a ser confrangedor. Já não há mais nada a dizer. Há demasiados porta vozes, mas não se conhecem as políticas de retoma para o setor turístico, nem as opções ao nível dos transportes aéreos e ficaram sem resposta as questões relativas ao Cais de Cruzeiros e Hub na Praia da Vitória. Houve quem considerasse as minhas perguntas a este propósito risíveis. Relembro que risível é igual a cómico.
E a verdade é que, tudo isto seria cómico, se não fosse trágico.