Nas conferências de imprensa semanais protagonizadas, recentemente, apenas e só, pelo Secretário Regional da Saúde e Desporto, uma vez que este eclipsou o Diretor Regional da Saúde (Autoridade de Saúde Regional) e o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia por COVID-19, tem existido uma tónica dominante no seu discurso relativamente à responsabilidade e responsabilização.
Considera o Secretário Regional da Saúde e Desporto, no seu entendimento, que o combate à Pandemia provocada pela COVID-19 na Região, desde a sua tomada de posse, tem obtido um evoluir favorável e que a situação se encontra controlada... exceto na ilha de São Miguel.
Opta o Secretário Regional da Saúde e Desporto por desconsiderar a situação epidemiológica em São Miguel em detrimento da verificada nas restantes oito ilhas da Região.
Tal como o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta contra a Pandemia por COVID-19 prefere a mensagem positiva à negativa e não gosta quando se aborda a situação na ilha de São Miguel.
Quando recentrado na discussão e confrontado com a situação procura escapulir-se e fundamentar-se em comparações intelectualmente desonestas como a comparação com a duração das medidas restritivas na ilha de São Miguel e a cidade de Lisboa... já para não falar nas comparações numéricas e regionais no que se refere a número de casos e mortalidade...
Não obstante, para além dessa tendência em abrilhantar o trabalho desenvolvido e em parecer querer ouvir "Vivas" pelo seu desempenho (recorde-se que foi o mesmo que referiu que o governo tem tido um trabalho inexcedível, "um trabalho que os Açorianos nunca terão a oportunidade de agradecer"), o Secretário Regional da Saúde e Desporto opta, invariavelmente, por um lado, por apelar à responsabilidade e, por outro, por responsabilizar.
Gosta de afirmar que no seu entendimento existem três níveis de responsabilidade: a responsabilidade política, a responsabilidade de fiscalização e a responsabilidade individual.
Relativamente à responsabilidade política gosta de dar a entender que é imaculada. Que a assume perante tudo e perante todos, mas, em bom rigor, para si nada há a apontar e nada há, portanto, para responsabilizar e consequentemente pedir consequências. Se algum vislumbre disso houver: abre um processo de inquérito.
No que se refere à responsabilidade de fiscalização gosta de apelar às forças de segurança que intensifiquem a sua atividade fiscalizadora e que se mais não fazem é culpa do Governo da República e do Ministério da Administração Interna que as tutela.
Já havia apresentado esta estratégia no que concerne à suposta falta de vacinas, culpando também o Governo da República, sendo que se veio verificar que afinal elas existem, estando, isso sim, a ser desde o início do processo desorganizadamente administradas, procurando, conforme o andar da discussão, procurar culpar o governo anterior por não ter deixado um plano de vacinação regional elaborado quando as vacinas foram aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento em dezembro...
Como se não bastasse este sacudir da responsabilidade, tem ainda outra escapatória, essa preferencialmente utilizada desde janeiro deste ano.
Desde janeiro deste ano que a responsabilidade individual passou a ocupar grande parte do discurso dando a entender que o combate à Pandemia está a ser ineficiente e ineficaz porque... as pessoas não cumprem.
É necessário recordar que em dezembro, após a primeira cerca sanitária e a realização de testes rápidos na Vila de Rabo de Peixe, o responsável pela tutela da saúde apressou-se a qualificar a intervenção como um "sucesso". Afirmava a 10 de dezembro o Secretário Regional da Saúde e Desporto na Assembleia Legislativa Regional que "a operação de testagem massiva em Rabo de Peixe, com a participação de centenas de profissionais de saúde, técnicos sociais, bombeiros, proteção civil, autarquias, forças de segurança e militares, voluntários, responsáveis políticos e, sobretudo, as pessoas, revela que quando as lideranças afirmam, genuinamente, a importância de todos, todos respondem com sucesso".
Passados estes meses e perante novo avolumar de casos na Região o que diz agora a referida "liderança"?
Atribui e resume a situação epidemiológica na Região, nomeadamente, na ilha de São Miguel, ao Governo da República e às forças de segurança que não fiscalizam; ao Governo de República que não envia vacinas em número suficiente mas que ainda assim justifica a contratação de mais um "especialista" para gerir o processo; aos partidos da oposição, nomeadamente o PS/Açores, que no seu entendimento não ajudam por estarem sempre a questionar, propor e opinar; em supostos trabalhadores "terroristas" que semeiam o caos com supostas chamadas falsas; à comunicação social que não colabora com as notícias que lhe dariam jeito e, por fim, à população que no seu entendimento não cumpre.
População essa que continua com dificuldade em compreender a incoerência de medidas que alternam à mesma velocidade que o sistema dito "semafórico".
A incoerência de medidas que de manhã são de base científica e que à tarde são de vontade política.
Onde está a dita "liderança" que afirma, genuinamente, a importância de todos?