Opinião

As pessoas somos nós…

As pessoas odeiam cercas e confinamentos. Mostram-se irritadas com ignorantes e prevaricadores. Estão cansadas de ouvir falar da pandemia e dos efeitos secundários das vacinas. Têm urgência em consultas da especialidade ou desesperam em listas de espera para serem operadas. Não acreditam no regresso às escolas, mas sabem que os filhos aprenderam pouco nas aulas à distância.
As pessoas já perceberam que teletrabalho é sinónimo de burocracia eletrónica. Mas também estão saturadas das viagens pendulares para o trabalho…quando ele existe! São os rurais que todos os dias se deslocam à cidade para trabalhar, e são os citadinos que todos os dias regressam às freguesias para descansar! Os primeiros trabalham na construção civil e os segundos no comércio e serviços. Sim, porque tirando estas atividades, já só temos agricultura! Que é nobre no labor, mas nem tanto no rendimento! Pois, se nem os filhos dos lavradores querem ser lavradores?
Durante o dia surgimos mais estratificados nos nossos estatutos e papéis sociais. Pois, podemos estar entre os que trabalham, os que têm emprego, os que queriam trabalhar, mas não procuram trabalho, e os que trabalhando por pouco mais valia não trabalharem. E depois, há os outros, os que nunca trabalharam, nem sequer tiveram um emprego, mas que nos dão muito que fazer, quando nos pomos a pensar porque vivem tão bem! Se calhar vivem das suas posses, mas nem sabemos que posses têm!?
Cuidado, porque há ainda uns outros, os mais respeitáveis de todos - os reformados -  os que trabalharam uma vida inteira, para agora com as suas reformas ajudarem a sustentar três gerações: a sua, a dos filhos e a dos netos. São avós heróis, mas estes não são os heróis improváveis desta pandemia, porque já o foram da crise económica do subprime de 2008, quando bandidos transacionavam dinheiro entre bancos e fundos financeiros como se fosse seu, e da crise das dívidas soberanas de 2011, quando os donos disto tudo, encontravam os Sócrates deste mundo para nos roubarem de olhos abertos, apenas se estranhando que nunca ninguém tivesse visto nada!
Entre nós, os reformados são os tais, os do cheque pequenino do PS, dos medicamentos compamid do CDS, das consultas em atraso do PSD; são os que veem o tempo correr mais depressa, afinal, alguns só querem o relógio para saberem a hora de ir buscar os netos ao jardim de infância.
Nos fins dos dias, as pessoas ceiam os jantares, projetam-se para cima dos sofás, entediam-se com as notícias requentadas dos telejornais, dormitam sobre o futebol que repassa em todos os canais, deixam-se enganar por publicidades vistosas, dormem sonos sobressaltados pelas consciências religiosas e esperam os amanheceres!
Nos dias seguintes, lemos os jornais, nós que somos as pessoas que gostamos de política, achamos o governo da república um enfado de amigos e os partidos da oposição uma desgraça que junta inimigos.
Nos Açores, as expectativas sobre o governo regional são poucas ou nenhumas, mas há que aguentar, espera-se que a oposição se refaça, há que aguentar, e enquanto isso, descobrimos que estar-se na oposição é não se ser esperto, porque esperto é aquele que ganha sempre, que está sempre do lado dos vencedores. É aquele que é louvado por ter mudado de campo de batalha, como se as batalhas dos princípios, dos valores e das convicções mudassem de campo!
Mas há que aguentar mais um pouco! Estamos num processo de vacinação, que corre lento e seguro, e que traz esperança.
Estamos nos últimos dois meses de escola, onde alunos e professores estão exaustos. Receio por uns e por outros, porque as estatísticas e os rankings não têm coração, não medem o esforço, e muito menos a exaustão!
As pessoas agora já só desejam sol, férias e viagens! Quem é que não quer isso? Quem é que não percebe desejo mais simples!?
É que desta vez, é bom para todos, para os que querem descansar e para os que querem trabalhar! Parece estranho, mas é verdade!