Salvo uma pouco provável oportunidade de compra de terrenos situados a norte, nascente e poente da cidade, onde construir grandes parques de estacionamento com a função de acolher centenas de viaturas diariamente, que, servidos por uma rede de minibus para em poucos minutos “derramarem” na cidade milhares de pessoas todos os dias pelas manhãs e as recolher ao fim de tarde num movimento pendular ritmado pelos horários escolares e de trabalho, o melhor que há a fazer sobre este assunto é equacionarmos aquilo que está ao alcance de uma Câmara Municipal, que é fazer uma aposta muito clara na construção de uma rede de médios e pequenos parques de estacionamento, estrategicamente distribuídos na malha urbana da cidade.
Estes parques resultariam da aquisição de parcelas rústicas ou urbanizáveis ainda disponíveis; da aquisição de casas em ruínas sem valor material e patrimonial e com quintais com áreas razoáveis; do arrendamento de chãos sem construções, onde a Câmara pagaria uma compensação, deixando intocável o valor imobiliário dos mesmos, mas com prazos compatíveis para o retorno das pequenas melhoras a introduzir, como pavimentações ou vedações; contratualização de cedência de logradouros, parques interiores de fábricas, armazéns ou espaços comerciais, salvaguardando em caso de necessidade fachadas “máscara”, para não introduzir disrupções no alinhamento urbano, acrescido de cuidados de segurança no resguardo das viaturas parqueadas e nas suas entradas e saídas.
Os médios ou pequenos parques, dispersam o estacionamento na cidade, não criam concentração de viaturas nos seus acessos, ajudam quem precisa estacionar de forma ocasional ou temporário, apoiam os moradores da vizinhança e libertam as vias públicas de parqueamento, aumentando com isso a fluidez do trânsito nas mesmas.
Uma rede de parques desta natureza garante às pessoas o estacionamento ou paragem mais perto das suas moradias, dos seus serviços ou escolas dos filhos, evita grandes caminhadas nos passeios da cidade que em muitos casos são estreitos e irregulares, assegura rápido acesso e proteção nas alterações climatéricas diárias e permite uma regular circulação de viaturas de transporte de pessoas e de mercadorias, circulação que pelo menos durante a noite traz segurança a zonas habitacionais mais sensíveis ou a praças e demais espaços públicos despidos da presença de peões.
E por muito que se queira e goste de ruas, praças, passeios e pracinhas disponibilizadas para fruição dos peões, apoio ao comércio e valorização do edificado de cultura e religião, a verdade é que o carro é um meio de deslocação familiar, seguro e confortável, do qual dificilmente abdicamos e que temos que fazer conviver com quem vive e descansa na cidade e sem agressividade com o meio social e ambiental da urbe.
Associado a esta rede de parques de estacionamento, é indispensável ter uma boa rede de minibus, de preferência de motriz elétrica, confortáveis e a preços módicos, caminhando rapidamente para a gratuitidade para o utente; ter praças de táxis repartidas em bolsas como respostas de maior proximidade ao comércio, unidades hoteleiras e alguns serviços públicos, de modo a evitar aquilo que vemos hoje com frequência na nossa cidade: gente às correrias em direção à baixa à procura de transporte de autocarros ou táxi; turistas literalmente arrastando malas de viagem em centenas de metros de caminho, alguns com pavimentos muito ásperos para os rodízios ou mesmo sem passeios mínimos para o efeito.
E aqui sejamos muito claros, não devemos querer para os turistas aquilo que não queremos para nós, ou que não queremos encontrar nos lugares para onde decidimos viajar e passar férias.
Naturalmente que tudo isso deve estar associado a uma outra rede de transportes terrestes dentro do concelho e em toda a ilha, matéria a requerer entendimento entre o Governo Regional e a Câmara Municipal, onde cada um assumirá as suas responsabilidades, por isso não se pode perder qualquer oportunidade de entendimento e de aproveitamento de sinergias.
À Câmara Municipal de Ponta Delgada só deve caber a salvaguarda do bem-estar das populações e não fazer competições sobre quem faz mais, maior ou melhor, aliás, o Governo Regional também deverá assumir as suas responsabilidade no estacionamento a disponibilizar na cidade, assim como os privados, pois não devemos esquecer que todos os dias centenas de funcionários públicos ocupam lugares de estacionamento na cidade, quando possivelmente poderiam ter parques privativos para sua comodidade, enquanto os privados sempre que puderem também devem disponibilizar parques privativos como agrado para os seus colaboradores, atração de clientes e fator de competitividade dos seus negócios.