Opinião

Já Chega!

Não era minha vontade continuar a dar para este peditório, mas as circunstâncias assim o impõem. Quando julgava que a novela de 3.ª categoria, que infelizmente está a rodar nos Açores, ia para intervalo até ao próximo plano e orçamento, assisti a parte da intervenção de José Pacheco no congresso do Chega. O agora vice-presidente do Chega disse, com as letras todas, o seguinte: “Verdade seja dita, se nós não déssemos um murro na mesa, garantidamente éramos engolidos, mas com o José Pacheco isso não acontece”. E acrescentou “Não há político nenhum que me conseguisse dar a volta, não havia nada que me segurasse ao chão. A verdade é que eles perceberam isso, e a verdade é que o Governo dos Açores do PSD cedeu em tudo o que o Chega exigia.” E quase a terminar disse ainda o seguinte: “Eu vejo os meus Açores como parte integrante de Portugal, e eu vejo que os Açores aqui também podiam dar um grande exemplo a esta nação: se é possível governar com o Chega nos Açores, é possível governar Portugal com o Chega.”
Ora bem, o que dizer perante isto? Há duas hipóteses: fugir à realidade ou encarar a realidade. Bolieiro, obviamente, optou pela primeira. Vai daí, falou para dizer coisa nenhuma. Bolieiro sabe que está nas mãos de Ventura e do seu ventríloquo regional. Por isso, não pode fazer qualquer desmentido direto. Fica por aquilo onde é fortíssimo, isto é, pelo jogo das palavras. Onde inadmissíveis chantagens são catalogadas de meras “aportações”. Onde óbvias cedências são remetidas para um inexistente “acordo de incidência parlamentar”. Onde renúncia a princípios e valores são trocados pela alegada “centralidade do parlamento”. Onde o Governo aparece nas fotografias a cores e os partidos da coligação nas fotos a preto e branco.
Vamos agora à outra hipótese. Esta implicaria ter coragem. Qualquer político responsável tem de ter este “requisito” no topo das suas qualidades. Um político com coragem, quando confrontado com chantagens, só tem uma coisa a fazer. A opção está no caminho a seguir. Há sempre duas opções. Ainda que ambas levassem ao mesmo destino. E quais eram essas opções? Deixar o “chantagista” a falar sozinho ou, parafraseando o senhor Pacheco, dar um murro na mesa.
Em qualquer um dos casos, o recreio terminaria logo ali. Infelizmente a verdade é que o recreio vai continuar. Teremos por mais uns tempos, enquanto o menino André assim entender, um grande recreio montado nos Açores.
O menino André, usando e abusando da ingenuidade do menino Pachequinho que até o trata por “anjo da guarda” e “capitão da caravela”, percebeu rapidamente a posição de fraqueza em que se deixou colocar o Presidente do Governo. E é essa posição que explica que o Deputado Pacheco, despudoradamente, tenha lido um discurso aos seus companheiros congressistas onde constava escrito que “preferíamos [nos Açores] morrer livres do que sujeitos por um PSD”.
O PSD/Açores, partido fundador da Autonomia e com mais de duas décadas de poder na Região, vai continuar a deixar os meninos brincarem no recreio? O menino André, criador de um partido à sua imagem, terminou o congresso dizendo que “Deus, pátria, família e trabalho” é o lema do Chega. Todos conhecemos um lema parecido. E sabemos no que deu…